O lugar possível da dor... ... ... ... ... ... ... e a existência além dela... ...

Quando eu era adolescente a gente brincava na escola que quando hora e minuto eram iguais tinha alguém pensando na gente. São 21:21 do dia 11 de abril e eu queria que você estivesse pensando em mim agora. A minha vontade é simplesmente apagar essa primeira linha e esperar o minuto 21 da hora passar pra recomeçar o texto, mas isso não mudaria o fato de que eu digitei essas palavras. Talvez o que eu possa fazer é só tentar aceitar que nossa história acabou e que agora eu não escrevo mais pra te encontrar. Escrevo pra outras e outros que se encontram desencontrados nas dores da vida como eu.

Oi, gente, que saudade que eu estava de vocês! Faz tempo que eu não falo nada, não posto nada, exceto as últimas poesias, que foram mais um dos insights oportunos e proveitosos de uma crise de SPA (Síndrome de Pensamento Acelerado) que tive. De resto, a vida só me deixou sobreviver e continuar respirando! Meu ano tem sido intenso, as vezes eu me sinto incomodado com o fato de que metade de Abril ainda nem se foi e tem mais um resto de ano inteiro pra existir! Quero só deixar pra lá. Acho que foi muito tempo eu escrevendo tanta coisa aqui que vocês podem estar confusas e confusos, né?! Bom, vou explicar pra tentar atualizar vocês, ok?

Eu superei aquela traição de 3 anos atrás. Celebremos! O tempo passou, a dor assentou, a elaboração chegou e hoje eu gosto muito de olhar lá pra trás e pensar que eu passei por tudo aquilo achando que nunca passaria mais, mas passou… Olho pra trás e vejo as cagadas que eu fiz em todo o processo (que não foram poucas, meus amores, algumas delas inclusive registradas aqui) e o motivo de tanta ruptura que aconteceu na minha vida, mas também compreendo tranquilamente que isso foi parte do processo de entendimento da minha doença e de tudo o que tava rolando… O fato de eu admitir os erros e minhas falhas não significa necessariamente que eu julgue que tivesse condições de tomar decisões diferentes. Foi importante passar pelo que passei! Entender a minha cabeça é uma coisa complexa demais, por isso além de pedir perdão a todas e todos os feridos por mim, o que de fato importa que aconteça, preciso antes de mais nada perdoar o Bob e acolher suas dores.

Tenho escutado muito uma música de “Los Hermanos” e acho que ela reflete muito como eu, embora com apenas 23 anos, olhe pras experiências vividas até então.
E se eu fosse o primeiro
A voltar pra mudar
O que eu fiz
Quem então agora eu seria?
Ahh tanto faz
E o que não foi não é
Eu sei que ainda vou voltar
Mas eu quem será?
[…]
E se eu for o primeiro
A prever e poder
Desistir do que for dar errado?
Ahhh olha se não sou eu
Quem mais vai decidir
O que é bom pra mim
Dispenso a previsão
Ahhh se o que eu sou
É tambem o que eu escolhi ser
Aceito a condição
O VELHO E O MOÇO – Los Hermanos
E por falar sobre acolher as dores do Bob, revisitei um texto que publiquei chamado “É na dor que eu existo” e levei ele pra terapia acompanhado de outras demandas que trouxe pra quem ficou 1 mês sem falar semanalmente com o psicólogo (e mesmo ele estando na Europa, de férias, ele ainda se lembrou de mim e me mandou mensagens fofas, ele não é demais?!)

Tenho passado por momentos difíceis na caminhada, em termos de saúde mental. A instabilidade profissional me afeta, não concluir minha graduação me afeta, estar insatisfeito com ela também me afeta, não estar estável emocionalmente me afeta, ter voltado, mesmo que ‘provisoriamente por enquanto’, pra casa dos meus pais me afeta e não conseguir avançar em muita coisa me afeta. Eu sinto falta do Bob de agenda cheia e atividades mil que dava conta de tudo! Ou pelo menos que achava que dava. Mesmo sabendo que aquilo também não é a coisa mais saudável do mundo, ainda prefiro aquela insanidade do que a atual. Tenho elaborado um plano para poder fazer as minhas atividades! É difícil demais lidar com tudo, mas tenho seguido.

As elaborações filosóficas e todas aquelas discussões que eu trago ainda virão nesse texto, gente, eu prometo não fazer desse post apenas uma contação de histórias (o que de fato também não seria um problema, desde o ponto de vista de que esse blog é um híbrido propedêutico do meu livro que de fato vai ter muita história minha). É que como faz tempo que não nos falamos direito, sinto ser importante trazer vocês pras novidades do que tem acontecido comigo! A propósito, hoje é dia 21 de Abril, são 23:22 de um sábado e eu estou no ônibus a caminho de Foz do Iguaçu. Volto pra Curitiba só dia 29, vou estar por todo o oeste, passarei por Foz do Iguaçu, Medianeira, Toledo, Palotina e Guaíra, se não me engano!!! Vou trabalhar pra Curitiba Cia de Dança! Sim eu to muito imerso no mundo das artes… … Aí, tá vendo… Eu preciso atualizar vocês pra explicar essa loucura toda!!! Prometo que o motivo de falar das dores e especialmente sobre “É na dor que eu existo” vai fazer sentido lá pra frente, mas até lá, vamos para um F5 rápido.

Depois de 23 anos esperando muito por isso, eu finalmente estou fazendo aula de Jazz. A professora Juliana Hauth tem sido uma pessoa incrível no meu caminho! Não sei se ela sabe como eu sou grato por tudo o que ela fez na minha história. Sabe aquelas pessoas que marcam a sua vida sem você pedir muito?! Elas apenas marcam sua vida com o jeito que elas são. Então, a Juh é essa pessoa. Quando eu fazia teatro no Colégio Militar (e sempre querendo fazer dança), ela me acalmava nas coxias, ela me encorajava a seguir nas artes. Hoje ela me dá a oportunidade e a honra de ser aluno dela! Tenho gostado muito das aulas e me sinto encontrado no mundo das artes! Não me arrependo do meu caminho até aqui, mas sinto também que não poderia esperar mais pra me render a esse mundo artístico e cultural. Além de fazer aula com a Juliana Hauth, eu também tenho trabalho no Espaço Artístico como Gestor de Processos Administrativos e Gerenciais. Foi um fechamento muito legal de finalizar e eu to feliz com essa oportunidade se abrindo! Tudo isso porque ano passado eu estive em Governador Valadares produzindo um espetáculo de fim de ano que peguei na fase de finalização de produção e pós produção! Muita gente me incentivou a voltar pra arte e tem a participação de muita gente sobre esse meu processo todo.

Faz uns meses que eu tento lidar com a ideia de estar só de novo. Não compartilho muito sobre isso, primeiro porque tem muita gente que deve ser preservada em todo esse processo e eu levo isso muito a sério, especialmente porque tem mais gente ainda que acha muita coisa e não sabe de metade das coisas. Gente com respostas prontas sobre o que devo fazer, como devo proceder e até mesmo o que eu devo sentir, contrariando o Jesus que eu sirvo, que é aquele que desce no chão pra perguntar “mulher onde estão teus acusadores?” ou que pergunta ao homem “que queres que eu te faça?”. Meu Cristo me ensina a não ter tantas respostas, mas saber fazer perguntas, estar preocupado em ouvir, compreender muito mais do que em responder. Aliás, meu Cristo me ensina que o caminho da empatia e compreensão é o caminho da resposta relevante! Um outro motivo pra não falar tanto sobre isso é que eu não sei ainda qual a resolução da história toda. Dentro de mim os votos de que, quem sabe um dia eu ainda consiga contar pra vocês sobre meu casamento, são fortes demais pra eu simplesmente declarar um fim. Contrariando os fatos e a realidade mais uma vez, Bob? É, talvez… Mas que é a vida se não a própria contradição da existência!

Integridade nunca teve a ver com não ter contradições. Integridade tem a ver com abraçar suas contradições, suas complexidades, aceitando-as, amando-as e respeitando-as cada uma do jeito que é. O paradoxo é o existir em si, então podemos deixar um pouco de lado os argumentos e entender que a vida é por si só e em si mesma o argumento, sustentado pelo Deus triuno que a fez como ela é!
Pois nEle vivemos, nos movemos e existimos, como disseram alguns dos poetas (e profetas) de vocês: “Também somos descendência dele” – Atos 17:28
Lendo meu texto sobre o lugar da dor nas nossas existência, refleti bastante sobre como a dor é esse lugar que nós temos uma tendência a nos afastar de nós mesmos no processo! A gente não gosta de lidar com a dor, a gente não gosta sequer de falar sobre a dor! Meu processo me ajudou a entender e olhar pra mim como alguém que pode sim viver na dor, existir em meio a ela, com ela e a partir dela. Dor não é negação da existência, é apenas mais uma forma de afirmação dela. Só sente dor quem está vivo! Cadáver não dói! Se é dor é algo que eu SINTO, dor é pulsão, é vida e a gente pode aprender a celebrar isso! Isso não faz doer menos, nem consola as angústias dentro de nós, mas pelo menos preenche essa lacuna existencial que insistimos em criar quando falamos da dor. Contraditório, não é mesmo? Pois sim, abracemos a beleza disso!

Eu estava na terapia, falando sobre estar solteiro e sobre talvez nunca ter ninguém pra dividir a vida e foi quando eu trouxe esse texto em pauta. Meu terapeuta, como sempre muito mais rápido que eu, virou pra mim e me destruiu com duas perguntas. Ele questionou: “Bob, quando você estava escrevendo esse texto você estava sentindo dor por que?” logo mais ele aprofunda: “e você deixou de existir agora que a dor do texto que você escreveu passou?”

Sim, pessoal, meu terapeuta nunca me dá folga… hahahahaha… E eu amo isso! É sempre eita atrás de eita… Eu fiquei sem reação no consultório. A sessão pairou no silêncio. Tentei fazer uma brincadeira pra descontrair, mas o meu psicólogo sabia que aquele era o momento de me botar pra pensar. Fico assustado em como ele tem um timing certeiro comigo! Desde a primeira sessão que ele só acerta nesse processo. Mesmo quando eu discordava e até mesmo quando eu não entendia a proposta, confiar na competência dele (36 anos de clínica, doutorado em linguística, pesquisador em gênero e sexualidade, teólogo honoris causa e a lista segue) era sempre um passo em direção ao meu processo. Pra além dos títulos, segundo o que Jung sugere sobre quando tocamos uma alma humana, alguém que entendeu minha história e me acolheu incondicionalmente. Lembro de exercícios bizarros que ele pedia pra eu fazer, como olhar pro espelho, fazer um altar na minha casa, imprimir foto de gêmeos siameses, tomar café com gente chata… sempre uma coisa que me fazia pensar “meo, isso não faz sentido algum”, mas daí eu respirava fundo e eu só ia… Sabe aquela coisa “fazer pra dizer que fez” e depois eu ficava num momento de plenitude (mindfullnes) com como aquele exercício fez um sentido absurdo na minha vida! Olha só, sei que muita gente não curte a vibe do psicólogo e que muita gente não dá certo com determinadas abordagens, mas sério, gente, confiem na formação dos profissionais em saúde mental… Todas e todos as/os profissionais de saúde mental, são pessoas que estudaram muito pra falar o que falam e propor o que propõe. Todo mundo tem direito a não se identificar com a abordagem que um determinado profissional tem. Isso em qualquer profissão! Mas o negócio é persistir até encontrar seu lugar. Você merece uma boa terapia, dê esse presente a você!

Bom, dia 05 de maio de 2018 - 22:02, eu estou sentado na frente do computador e acabei de revisar o que escrevi até aqui. É hora de seguir compartilhando as reflexões. Esses hiatos que eu tenho entre minha escrita me incomodam muito. Não gosto de me ver inconstante. Ao mesmo tempo, faz parte de quem eu sou então não tenho que lutar contra isso!

Depois de quase 3 anos com encontros semanais com meu psicólogo, pensar sobre mim passa a ser um exercício que estou mais acostumado a fazer. Hoje me percebo um pouco mais lúcido, embora ainda muito confuso quando o assunto é meu self. Doeu muito chegar até aqui, mas a dor me fez chegar onde estou hoje e da forma como estou hoje!

Mas e aí? E quando a dor passa? E quando o processo finda ou se transforma em outras coisas? Quem existiu na dor pode existir além ou depois dela?

A dor é um lugar possível nas nossas existências, embora muito negado pela maioria das pessoas, mas ela também não é o único lugar possível de nos encontrarmos. Nós podemos nos encontrar e existir em outros lugares também. Veja, acho que esse texto pode não fazer sentido, ou sequer soar acolhedor e empático com muita gente que se encontra imerso num vale de sombra e morte onde tudo o que vê são ossos secos, morte, caos e muita, mas muita dor. A essas pessoas o que posso dizer é que sim, vocês conseguem existir nesse tormento! Existe vida em meio a dor e tudo o que vocês vivem nesse momento é tão real quanto dizer que um mais um são dois. Quando me vi nesse cenário, lembro-me de que as palavras otimistas ou as interjeições positivistas das pessoas ao meu redor não me soavam esperançosas, por isso longe de mim dizer pra você que “não é tão doloroso assim” ou que “você precisa fazer isso ou aquilo”. Abraça esse lugar da sua existência e resiste em existir aí. Chora, dói, sente, vive, revive, sobrevive, convive! Reside nessa morada que é seu corpo e que sente no físico o lamento do que é intangível no cartesiano. Não mensura, deixa fluir como rio forte! Essa torrente de água vai passar e levar consigo muitas encostas que outrora eram porto seguro em você. O cais talvez se rompa. O que era certeza deixa de ser, o que era consolo não refrigera. Esse turbilhão de águas intensas vai abalar estruturas outrora rígidas e firmes em você. Aquelas convicções tão rígidas de repente se mostram frágeis. A firmeza do que achávamos ser verdade se torna um andar trôpego! Por mais que seja muito difícil acreditar no que vou te escrever aqui, se você leu meu texto “É na dor que eu existo” e sentiu que ele se aproximou da sua realidade, me permito convocar essa aproximação empática que tivemos para calorosamente ressoar em você nesse momento gélido de dor. Vai passar. A enxurrada vira maré mansa, o turbilhão assenta em calmaria. A dor restinga em solo fértil da existência e brota disso uma raiz profunda e resistência! Você vai sair disso mais forte! A dor é um lugar possível de existir e o melhor desse lugar é que, quando passamos por ele com nossa integridade, descobrimos outros lugares possíveis de existir que não descobriríamos se não fosse nossa estadia aqui!

Eu deixei a dor doer e porque a deixei doer hoje me encontro em outros lugares que não me eram acessíveis. A dor é lugar de encontro! Lugar de encontro feito ponte que faz encontrar dois lugares. A dor é ponte, que se concebe como coreto e de repente é central, único e exposto, mas também que abre acesso a vários caminhos.

Vivemos nos movemos e existimos nEle, mesmo que na dor. Tudo bem se a dor nos definir por alguns momentos. Tudo bem se a dor for o lugar onde nos encontraremos conosco e onde as pessoas nos encontrarão. É possível viver, se mover e existir na dor! Se há um milagre que pra mim se faz concreto na cruz é o milagre de fazer da dor o ápice da fonte que gera vida eterna e em abundância! O que nos sara é a pisadura (Isaías 53: 5). A pisadura é o lugar do milagre e a dor é o lugar da vida, por isso use o vigor que você tem pra acreditar que a dor vai passar, mas a vida não vai acabar! Lembro-me de como empenhar vigor era um desgaste imensurável. Lembro-me também que por muito tempo eu achei que nunca fosse acabar! Eu escrevi sobre isso e você leu… Eu vivi na dor e achei que ela seria meu lugar de reclusão. Me sentia preso a ela, encarcerado!!

Jovens, eu vos escrevo porque sois forte! Jovem, eu vos escrevo porque sou jovem! Vos escrevo porque sou fraco! Foi na fraqueza que descobri que ser forte é ter bravura e nobreza pra se assumir frágil! Escrevo porque me obrigaram a ser forte por muito tempo. Escrevo porque me tiraram o direito de ser fraco e não quero que tirem isso de vocês. Escrevo: Sejam fortes e lutem pelo direito de serem fracos e frágeis. Sois fortes, pois falam de vossas fraquezas! Sois! Ser é argumento forte o suficiente! Ser é forte o bastante!

A dor é um lugar possível sim e justamente por ser um lugar possível, é também um lugar de possibilidades!

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