Entre correr risco e correr o risco

É muito engraçado pensar que eu luto em mim mesmo pra acreditar que o que atravessa meu sentimento é algo que não passa de uma alucinação. Esquizofrenia, lembra? A sensação enorme de que você me ama e de que eu te amo e de que na verdade tudo o que você vive é uma constante tentativa de negar seus sentimentos. O desejo que temos de sermos um. Eu e você!

A nossa história é tão longa e tão intensa que eu tenho certeza que todo mundo vai ler esse meu texto, mas só você vai saber que eu estou falando com você! Estamos acima de qualquer suspeita! Mas lá no fundo eu sei... e eu sei que você sabe! Eu só não tenho certeza se você sabe que eu sei. Que eu sempre soube e que na verdade eu sempre quis silenciar. Nós quisemos. Eu só não sei se você sabe que eu também sei que foi difícil até aqui e que reconheço seus motivos. Não sei se você sabe que eu sei e que também sei que é difícil pra você.

Será que você sabe que eu sofri muito quando soube de tudo? Que eu chorei em secreto por não ter sido avisado e por saber que você decidiu não me avisar. Eu teria feito tudo o que estivesse ao meu alcance pra estar com você! Mas também sei que talvez eu não fosse um ponto de saúde pra você. Eu não te faria bem naquele momento. E talvez não faça bem pra você a partir de agora. Talvez a nossa história seja sempre essa história de não sabermos se no fim das contas nós poderíamos fazer um ao outro felizes.

Quando dormimos lado a lado eu senti nossos corpos numa energia vital naquela noite. Não dissemos nada um ao outro, não fizemos nada um com o outro. Nós apenas dormimos lado a lado! Mas foi suficiente pra termos em nós a certeza de que sempre soubemos que somos um do outro!

É claro que agora parece tudo tarde demais e louco demais. Nossas vidas caminharam pra destinos tão antagônicos e até nossa forma de conversarmos um com o outro mudou! É como se a gente tivesse que conversar em secreto e nas entrelinhas fingindo que nada está acontecendo pra que ninguém desconfie... Mas eu sei e você sabe... Ou as vezes é só uma alucinação da minha cabeça e eu nunca saberei...

Eu só queria que você soubesse que entendo seus motivos! Não só entendo como os considero legítimos... Entendo o motivo de não ter me contato sobre aqueles dias quando viveu aqueles dias e entendo quando me disse que você queria muito que eu soubesse e que eu fosse avisado, mas que eu talvez te fizesse mal. Sei também que quando você não me chamou pra participar do seu momento é porque você sabia que nós dois não gostaríamos de estar naquele lugar daquela forma...

A gente talvez nunca vai saber como seria a nossa vida se as coisas fossem de um jeito diferente. E sei que você é feliz, apesar de tudo! Eu verdadeiramente me alegro por você e te desejo o melhor. Nunca saberemos como teria sido se tivéssemos corrido o risco de viver o secreto do nosso amor. Tão secreto que é nebuloso até pra nós. Tão secreto que nem nós sabemos direito como é. Nunca saberemos como seria se tivéssemos avançado o risco do limite e permitido estar em um outro momento, um outro lugar...

Nossas conversas são tão estranhas agora né?! Não parece que nos conhecemos da forma como nos conhecemos. Não parece que tivemos a história que tivemos... Parece um estranhamento forçado e proposital, como se tivéssemos que mostrar pras outras pessoas que nos distanciamos.

Nós somos gentis um com o outro, somos educados, mas reivindicamos pra nós uma formalidade na escrita que precisa demonstrar que não somos mais como fomos! E eu entendo. Sofro por isso, mas entendo.

Entre correr risco e correr o risco você preferiu viver outra vida e de não me ter como parte dela. Pelo menos não dessa forma. Eu corro o risco de nunca saber se é verdade tudo isso ou se eu só estou precisando ajustar a dose da minha medicação antipsicótica. Eu sei que te devo muitas coisas, inclusive dinheiro. Quero que saiba que quero quitar todos os débitos! Vou lutar por isso... Mas tenho receio... receio que nunca vamos quitar a dívida da conversa honesta que temos que ter um com o outro. Olhar nos olhos e falar o que verdadeiramente sentimos e o que verdadeiramente vivemos. Talvez eu morra com essa dívida e eu espero que você entenda, assim como te entendo.

Engraçado que, de alguma forma, essa dívida é o que vai fazer nós sempre permanecermos conectados. É o que nos une!

Bom, nasceu o dia e eu virei mais uma noite fria e gelada em claro. Não te achei na cama pra esquentar meus pés. E talvez seja sobre isso, sobre aprender a viver as noites frias sozinho mesmo.

É arriscado deduzir o que vai ser de nós daqui pra frente. É um risco pra mim e pra você pensar qualquer sequência dessa história. Em qualquer cenário possível.

Corremos o risco de seguirmos a vida distantes e de nunca saber como teria sido
Corremos o risco de colocar tudo a prova e arriscar o impensável
Corremos o risco de dar errado e ferir a nossa história
Corremos o risco de não arriscar nada que possa nos custar caro
Corro o risco de ser só uma alucinação
Corre-se o risco de nos encontrarmos num futuro e riscarmos os débitos que temos. Todos
Risco seu nome da lista de homens que amei
Risca meu nome da sua lista de homens para convidar
Risco versos rabiscados de amor nesse poema que te escrevo
Risca o olhar desviado que trocamos naquele dia que fui riscado da sua lista
Risco que correu nossos corpos naquela noite fria em que ficamos separados por um risco.

Risco
Arrisco

Arrisco dizer que você vai entender cada verso aqui escrito, mas mesmo assim não vai ter coragem de me falar que entendeu.Ou talvez você só vai falar que foi um poema muito bonito!
Arriscado demais eu supor todas essas coisas sobre nós, não é mesmo?
Coloco em risco muita coisa ao tornar públicas essas palavras.

Arrisco
Há risco
Ah, risco...

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