E agora, Deus está em missão também?

E disse-me: A minha graça te basta, porque o meu poder se aperfeiçoa na fraqueza. De boa vontade, pois, me gloriarei nas minhas fraquezas, para que em mim habite o poder de Cristo.
Por isso sinto prazer nas fraquezas, nas injúrias, nas necessidades, nas perseguições, nas angústias por amor de Cristo. Porque quando estou fraco então sou forte.
2 Coríntios 12:9-10

O dia foi maravilhoso, muitas atividades, correria gostosa, resolvendo vários problemas. E acorda cedo, sai de casa, visita núcleo de estudos, conversa com estudante, encontra amigos na rua, recebe uma oferta, que providencial do Senhor isso, precisava desse dinheiro. O tempo não para, a correria também não. Liga pro Escritório Nacional, liga pra estudantes de outro estado, responde e-mail, recebe ligação da Secretaria Executiva. Aquela atividade frenética que faz com que você nem perceba o tempo passar!
Ainda há muito a se fazer, a noite vai ser longa. E assim você pensa em comprar energético e refrigerante para ajudar na atividade. Vc não tem esse hábito, mas por ter visto sua agenda e percebido que tinha mais de 20 atividades, pensou “vale o sacrifício”.
Aula maravilhosa. Muito debate, reflexões profundas, um diálogo sobre a prática muito relevante, uma perspectiva baseada em acontecimentos da atualidade, não poderia ser mais empolgante.
Fim do turno noturno de estudos, deixa o mundo acadêmico pra lá, é hora de conversar com a namorada enquanto pega o rumo pra casa. Por ter muitas atividades vocês acordam entre si “vamos falar só durante o translado, assim que chegar em casa vou correr com as atividades”. Papo vai, papo vem, você chega no terminal de ônibus e o outro ônibus que vai pra sua casa acaba de sair. Você diz pra namorada “ótima oportunidade, vou a pé do terminal e assim conversamos mais”.
Descendo a rua, uma surpresa. 2 rapazes, um revólver. A ligação acaba, a respiração fica intensa, o corpo começa a tremer. Calma, tudo vai se resolver! Sem tempo a perder o jovem, de jaqueta cinza clara e calça jeans diz enfaticamente “Passa a mochila e a carteira”. Você respira fundo e diz “Cara, deixa eu só pegar minhas coisas importantes e você leva o resto”, impaciente o jovem diz “Não meoo, passa a mala, a carteira e tudo o que você tem” você tenta se controlar, começa a tirar a mochila das costas para abrir o zíper e diz “Mas eu posso te mostrar o que tenh…”. A fala é interrompida, já não se tem outra saída. O revólver está na sua cabeça, o jovem da jaqueta cinza, sem temor nem dúvida, aperta o botão e engatilha a bala. Com um tom agressivo ele interrompe “Passa a mochila e carteira”. Você passa a mochila e ele tira o revolver da sua cabeça e pergunta “cadê carteira?” sua respota “está dentro da mala”. Ele olha para o companheiro, um sujeito um pouco mais alto também de jaqueta cinza, dá um sorriso com ar de malandro que conseguiu o que queria e diz “agora você vai subir essa rua, duas quadras, vai, vai”. Você respira para falar e nem tem a chance “Vai logo, vai…”

O caminho de casa muda, era só dobrar a esquina, eu já estava nela! Minha casa é logo álí. Não interessa, você dá meia volta, sobe uma quadra andando e pensando “isso só pode ser brincadeira”. Você dá meia volta, os bandidos já devem ter ido embora. Ledo engano, eles estão lá, esperando você subir mais uma quadra, conforme ordenado. Nesse momento não há mais o que fazer, apenas subir mais uma quadra. A segunda quadra chega ao fim e você pensa “ainda tenho esperança de ver minhas coisas”, mas ao se virar, tudo já se foi, como se nunca estivessem estado alí!

E agora, como é falar que Deus está em missão? Ele está mesmo? Até nisso ele está em missão?

Chega em casa, família acolhe, a polícia chega, você faz o BO, não há mais o que fazer. Você senta no sofá e pensa “E agora José?”, mal sabia que esse era um péssimo momento para pensar isso. Pensar essa frase é lembrar do contexto ao qual ela foi inserida, o seu treinamento ministerial de 3 semanas que marcou sua vida. Junto disso você lembra que a mochila que foi roubada foi exatamente a mochila que você pagou 1/3 do valor por estar em promoção e você batizou ela de “mochila da parte prática” porque você comprou para o momento de parte prática proposto pelo treinamento (que lhe renderam inenarráveis experiências) e agora, de forma simbólica, você usava por entender que “estava sempre em uma parte prática”. Você lembra que dentro dessa mochila, de significado ímpar, estava a carteira que você tanto queria, que era também sua agenda. Não fazia nem 3 dias que você havia feito um marca páginas nela, todos os seus compromissos estavam anotados lá! As conversas que você marcou, os eventos que irá participar, os planejamentos das atividades, além dos documentos, cartão do banco (aquele que vc utilizaria para retirar as ofertas que recebeu afim de cumprir com os compromissos financeiros que você já estabeleceu), cartões de pessoas para entrar em contato.
As primeiras lágrimas caem!
E agora, cadê o teu Deus em missão? Onde está essa missão d’Ele na tua vida?
Ligações são feitas, esclarecimentos prestrados. Até que chega o momento crucial da noite, a lembrança da apostila do treinamento que você participou! É hora do banho, lavar o corpo e lavar a alma, chorar sem ser percebido, encontrar-se no secreto!! Seu coração irriquieto questiona “DEUS, MINHA APOSTILA DO IPL, POR QUE O SENHOR FEZ ISSO? PAI, o Senhor sabia do significado, da lembrança, das anotações, por que Deus, por que?”. As lágrimas ficam intensas, você não consegue ver perspectiva, muita dor!!!! “Poxa Deus, é tão difícil conseguir as coisas. Vivo contando centavos, cada objeto tinha um valor tão grande de conquista, de ver a Tua própria provisão. E agora? Como reaver? Como conseguir de novo? Mais esforço, mais dificuldade, por que? Por que?”. A dor toma uma proporção inimaginável no coração até que algo que sinaliza esperança lhe surge como um pequeno ponto de luz numa neblina de ideias e emoções. O culto de envio lhe vem na mente, Nilsa, uma das obreiras do treinamento estava orando com você quando, ao colocar uma mão na tua cabeça e outra no teu coração, diz com uma voz branda, como um sopro de refrigério: “que a paz que excede todo entendimento inunde seu coração, sua mente, domine suas emoções e te conduza no entendimento do que Deus está fazendo na tua vida”.
A dor ainda está lá, mas dentro do coração, paz! E, se para a graça me bastar de verdade, é preciso que minha fraqueza seja exposta e o poder aperfeiçoado nisso, então este é o melhor momento! Incapaz, injustiçado, frustrado, muito triste, preocupado, se sentindo fraco, impotente, diminuido enquanto pessoa… Nesse momento, o qual aquilo que “era teu” lhe foi tirado, você pensa “na verdade, o que de fato preciso é de uma graça que não é minha, mas que chega até mim”.

De fato, Deus está em missão e crer nisso é o que consola, traz paz, segurança e o que fortalece o coração para que, em meio a um outono solitário apontando pra um inverno desolador, consigamos permanecer firmes esperando a tão almejada primavera!!
São 3 horas da manhã, o cansaço, o sono e o coração abatido fazem frente aos compromissos e às demandas  que se tem pra cumprir. Talvez as ideias tenham ficado mal articuladas, mas talvez seja isso mesmo, o relato de um coração que não conseguiu articular todos os pensamentos, sentimentos e demandas ainda, mas que permanece na esperança e confiança de um Deus em missão!