Aprendendo sobre o amor

Esse post talvez seja diferente dos outros que você já leu. Ele não tem um estudo, uma análise ou uma reflexão. Ele tem muito mais a ver com o desabafo do meu coração. Espero que compreenda.

Cinco longos meses já se passaram desde que tudo aconteceu. A pessoa que me traiu já superou e me colocou no seu passado, segue a vida sem sentir minha falta. Me deixou arrasado, me deixou doente mental e segue a vida sem culpa ou dor. Enquanto eu preciso lidar com pensamentos e sentimentos perversos, enquanto gasto um dinheiro que não tenho com consultas e remédios, enquando eu fico estagnado sem ter o que fazer e com o que viver a minha vida, a pessoa que me traiu, que outrora era o motivo mais sincero dos meus sorrisos, agora me deixa desolado e sem perspectiva de recuperação. As pessoas tem poder de destruir a vida de outras pessoas e eu descobri isso da pior forma possível. Descobri isso sendo destruído, sendo completamente derrubado e arrasado.

No livro “O Pequeno Príncipe”, tem um momento em que o pequeno príncipe se encontra com uma raposa. No início do encontro, a raposa está totalmente desconfiada e distante de Antoine. Ao longo do desenvolvimento do diálogo a raposa e o príncipe se aproximam e se envolvem num vínculo de relacionamento, até que chega o momento em que a frase abaixo é dita por um dos personagens:
“Tu te tornas eternamente responsável por tudo o que tu cativas, me cativastes e agora és responsável por mim... pois o tempo e o carinho que dedicas a mim é o que mostra o quanto sou importante para você.” Antoine de Saint-Exupéry
Existe algo de muito real nas palavras expressas acima. Somos responsáveis pelos relacionamentos que cultivamos. Precisamos assumir a responsabilidade de entender que existimos e nos fazemos existir na vida de outras pessoas e que precisamos dar um sentido para essa existência. Já falei num outro post que toda relação é uma troca onde você deixa de si no outro e leva consigo uma parte do outro. Estamos falando de algo complexo e cheio de implicações! Quero enunciar aqui a possibilidade de entendermos que esse compromisso é sério e implica em compromisso!! As pessoas machucam umas às outras, as pessoas frustram umas às outras e essas feridas deixam marcas que são difíceis de cicatrizar. A dor de ser trocado, de ser rejeitado e desprezado é uma dor difícil demais quando falamos de alguém a quem muito se amou e a quem muito se entregou! Se essa pessoa tivesse sido mais sensível a mim e ao meu momento as coisas não teriam saído do jeito que saíram. A falta de respeito para comigo e meu processo fazem com que todo o meu processo se torne mais difícil. Eu não estou só sofrendo uma grande decepção. Não é tão simples de lidar. Eu estou doente mental! Fica difícil dar um fim ao processo se a pessoa fica aparecendo o tempo todo nos meus espaços. Há um movimento por parte da pessoa que me traiu de afirmação e de aparição nos espaços, de contato com amigos meus e de presença nas redes sociais e nos espaços comuns. Não acho (ou quero não achar) que a pessoa faça isso com a intenção de me atingir e de piorar o meu processo, mas me machuca muito a falta de consciência dessa pessoa de que isso tudo me fere e me faz mal. A falta de sensibilidade de pensar em mim, de tentar ser empático com a minha dor, isso tudo é péssimo pra mim! A maneira com que essa pessoa me despreza e me rejeita piora todo o meu processo. Seria menos doloroso se o desvínculo da dependência emocional acontecesse aos poucos. A ruptura abrupta me fez muito mal e agora preciso lidar com um vínculo que se rompeu em definitivo e ter a presença dessa pessoa nos meus espaços.

Eu sempre me vi do outro lado da frase do pequeno príncipe. Sempre me vi como responsável por todos os relacionamentos que cultivava. Eu sempre me via como aquele que tinha que cuidar, tinha que dar atenção, tinha que ser pastoral e mostrar presença nos relacionamentos. Cuidei de muita gente por muito tempo, fui amigo e doei tudo o que eu podia doar de mim aos outros porque levei a sério o compromisso de me tornar responsável por aquilo que cativava. Percebi que a recíproca nem sempre é verdadeira. Percebi que as pessoas não se sentem responsáveis por cuidar, por amar, por existir e se fazer existente na vida do outro. Falamos da modernidade líquida, falamos dos relacionamento fluídos e por interesse e essas mesmas pessoas que falam isso são as pessoas que machucam, ferem e abandonam! Eu dediquei tempo e carinho a muita gente, gente que virou as costas pra mim e simplesmente não quer mais saber de mim. No momento em que eu mais precisei me vi completamente rodeado de uma solidão sem fim. Eu estava sozinho, eu estava sem ter para onde correr. Graças a Deus encontrei na igreja que estou frequentando muito cuidado, muito acolhimento, muito zelo pastoral. Gente dedicada a me amar e me acolher do jeito que eu sou. Posso viver uma vida na verdade, sendo humano, sendo fraco, sendo limitado e cheio de contradições. Eu cansei de ser forte o tempo todo, também sou gente e também preciso de cuidado.

O meu processo está bem longe de acabar. Tenho descoberto que estou aprisionado em um vínculo de dependência emocional muito forte e que está difícil demais sair dele agora! Eu fui manipulado e acabei preso em uma relação doentia que tomou meu mundo por completo e destruiu minha segurança emocional. No processo de me entregar e me envolver eu fui sem reservas, não medi esforços e me deixei cegar pela felicidade que estava vivendo. Eu nunca achei que fosse ser tão difícil seguir a minha vida assim. O processo de descolamento e desvinculo tem sido o mais difícil em todo esse processo, parece que eu não consigo simplesmente seguir ou simplesmente deixar separar. Em mim, a dor da traição e da rejeição ecoam e doem muito mais profundo do que se pode suportar e por isso a superação vai ser um processo lento, demorado, com várias etapas e com dias bons e dias ruins. A dependência emocional não é um processo que acontece nítido aos olhos, ela é silenciosa, processual, ela tem uma roupagem bonita e faz bem pra quem o vive!!! É como um vício, é gostoso de cultivar, dá prazer, dá sensação de realização. A dependência emocional tira de você a capacidade de viver o amor em plenitude. É como se eu fosse incapaz de ser amado, acolhido por outro alguém. É como considerar a atenção e dedicação do outro indispensável para conseguir estabelecer a minha vida e a minha segurança emocional.

Uma coisa que tenho pensado nos últimos dias é sobre o amor. Meu terapeuta tem me ajudado muito na minha caminhada com o conceito de amor e de ser amado. Tenho descoberto que eu não sei o que é amor de verdade. Não sei perceber o amor, não sei reconhecê-lo, não sei sentí-lo. Meus pais me amam, minha família me ama e eu não consigo me sentir amado por eles porque eu não sei reconhecer o que é o amor. Eu vivi uma vida na mentira, vivendo uma ilusão sobre o que é o amor. Vivi uma vida ocupada demais para saber identificar o amor. Vivi uma vida cheia de demandas, de atividades, de ocupações. Não tinha tempo para ser amado em casa, não tinha tempo para descobrir o amor nas pequenas coisas. Vivi sem saber identificar o que é amor de verdade, sem saber sentir o que é amor de verdade. A dificuldade que tenho com a depressão hoje tem muito a ver com o fato de que eu não sei ser amado, não sei identificar esse amor. Parece que esse “amor” que querem me dar não me basta. Preciso lidar com tantas frustrações o tempo todo que fica difícil lidar com o amor. Eu estou com medo de amar. Aqueles que eu achei que me amavam não me amam de verdade, aquilo que eu achava que era amor não é em si mesmo, as demonstrações de amor que eu tinha para com os outros na verdade eram cheias de carências e de necessidades de afirmação. Eu me doei, me entreguei e fiz de tudo por um ministério achando que esse ministério me supriria e acreditando numa ilusão de amor que vinha da projeção das minhas carências e necessidades.

É difícil assumir e encarar, mas tenho percebido que por muito tempo eu me “prostituí” no mundo das relações. Eu dizia sim para qualquer coisa, para qualquer pessoa, eu ia dizendo sim sem medidas porque eu queria receber uma recompensa, eu queria receber um retorno. Eu precisava estar nos espaços e ser reconhecido, por isso eu fazia tudo o tempo todo. Eu me colocava como objeto diante de pessoas e situções e me deixava ser usado, a fim de receber o “proporcional relativo ao meu trabalho”. Eu não fazia isso por maldade ou por interesse, mas eu tenho percebido que sou uma pessoa tão carente que simplesmente não controlo a projeção das minhas carências. Na verdade essa “prostituição” acontece o tempo todo de todos os lados. A vida e as relações hoje se medem na base do interesse e da projeção das carências dos egos das pessoas. É difícil me ver nessa posição de pessoa que “se prostituiu” ao longo do tempo. Essa posição coloca em questão tudo o que eu construí ao longo do tempo e isso mexe com muita profundidade em quem eu sou hoje. Ao mesmo tempo, ter essa consciência me coloca numa posição de sobriedade a respeito de como vou me posicionar daqui pra frente e isso me permite constituir relacionamentos mais sinceros e sem tantas projeções. Pelo menos esse é o objetivo. Isso não significa que eu vou simplesmente superar todo o passado e viver um novo futuro, as marcas deixadas das relações que passaram por mim ainda são muito fortes.

Na verdade o que preciso aprender com o tempo é a ter mais amor próprio. Tenho percebido que ao longo dos anos me deixei enganar por falsas ilusões de um amor descomprometido e sem segundas intenções e isso tudo fez eu me cegar para o fato de que o meu amor por mim e o valor que eu tenho não poderiam ser obtidos no outro. O simples falar sobre amor próprio já é difícil pra mim. Eu não tenho estabelecido em mim as bases do que é esse amor próprio. Não sei falar porque pra mim isso é desconhecido. Eu não sei me dar ou reconhecer o valor que tenho. É como se eu precisasse o tempo todo do amor de outras pessoas pra me alimentar e é por isso que a traição dói tanto. Eu me sinto vazio sem receber o amor de quem projetei minha vida. Uma das coisas que preciso aprender no processo é a me amar mais. Preciso aprender a reconhecer o valor que eu tenho, ainda que ninguém o reconheça. Nesse sentido a espiritualidade e a fé são elementos centrais de toda a crise. Saber quem eu sou em Deus deveria consolar meu coração, deveria me poupar de tanto sofrimento. Eu ainda não consigo me entender como filho amado de Deus e entender que esse amor com o qual Deus me ama é suficiente para suprir as minhas carências, ainda que todos os homens me abandonem e me rejeitem. Eu ainda vivo distante da realidade de ter minhas emoções centradas em Deus, mas isso não signfica que eu não esteja buscando. Entender que Deus me ama pelo que eu sou e entender que ser é o bastante para Deus deveria gerar um sentimento de amor próprio em mim, mas não gera ainda. Uma das coisas que tenho tentado assimilar afetivamente é que eu não preciso colocar nenhum adjetivo depois do verbo “ser” para me dar valor. Vivi uma vida onde eu buscava todo o tipo de adjetivo para definir quem eu era… Eu sou “legal”, “útil”, “bonito”, “Inteligente”, “proativo”, “pastoral”, ou qualquer outra coisa que me ajudasse a definir quem eu sou. Tenho aprendido a entender que: EU SOU, ponto! Eu simplesmente SOU e isso já me torna único e especial. Acho que já compreendi isso racional e cognitivamente, só não assimilei isso emocional e afetivamente, mas eu espero que o tempo ajude nesse sentido. Me sentir amado e especial tem sido difícil pra mim nos últimos dias.

De todo jeito, ainda sigo avançando aos poucos. Não pretendo me deixar derrotar tão cedo. Isso não significa que eu estou forte e estou bem, mas significa que vou seguir caminhando apesar da dor. Essa é minha decisão todos os dias. O desgaste que empenho para tentar ficar bem é grande e envolve muito do meu vigor, mas vou continuar nessa jornada pelo tempo que for necessário. Espero que as pessoas se atentem mais paras as relações que cultivam, espero que as pessoas sintam mais empatia umas pelas outras e que tenha capacidade de se sentirem responsáveis por existirem na vida umas das outras. Que as relações sejam mais do que a simples projeção de carências e de egos que buscam afirmação!

Persigo hoje uma longa e dolorosa jornada em busca do perdão. Preciso aprender a perdoar a pessoa que me traiu e todas as pessoas que me abandonaram e me deixaram sozinho afundado nessa depressão. Preciso aprender a seguir a minha vida sem tanta amargura e mágoa. Meus dias hoje são pesados e pesarosos pois eu ainda sinto estar engasgado em um monte de coisa que ainda preciso dizer, um monte de coisas que eu sinto que preciso por pra fora. Eu ainda preciso ver uma justiça acontecer e essa minha sede de justiça tem muito mais a ver com minha mágoa e amargura do que com a justiça em si mesmo. Essa minha dificuldade de lidar com a presença do outro nos espaços, com a interação da pessoa nos grupos em comum, com as relações dessa pessoa com meus amigos, isso tudo revela que eu ainda não perdoei e ainda não consegui seguir a minha vida. Eu ainda me sinto preso a essa pessoa, me sinto vinculado a ela e isso tudo só me faz mal. O caminho do perdão é esse caminho de saber que nada vai acontecer e de ficar em paz com isso. A pessoa não vai ser exposta, os amigos vão continuar se relacionando com ela, ela não vai ser onerada em absolutamente nada e eu devo estar e ficar bem com isso. Isso não deve influenciar em absolutamente nada na minha vida porque eu decidi perdoar a pessoa por tudo o que ela me fez. Nossa, como esse desafio é difícil pra mim. Confesso que hoje eu acho isso tudo muito distante de acontecer, mas espero que o tempo ajude a curar as feridas e a fazer com que as dores diminuam.

Preciso entender que a vida não vai parar porque eu parei e eu preciso me posicionar diante disso. Segunda-feira agora, dia 29 de fevereiro, começam as minhas aulas na universidade. Esse semestre eu tenho 9 matérias pra vencer. Estou bem preocupado e com muito medo de como vai ser esse desafio, não sei se estou preparado para voltar pra universidade, pra rotina de intensas leituras, trabalhos e atividades. Esse semestre eu tenho 3 matérias para fazer de manhã, o que significa que terei que me disciplinar a dormir tarde e acordar cedo e preciso ver como vou fazer pra ajustar isso com a minha medicação, que me dá muito sono e me deixa muito cansado. Eu estou com muito medo, mas como já disse em outro post, entendo que o medo faz parte da minha caminhada e que caminhar com medo ainda sim é caminhar.

Talvez esse post não gere uma reflexão como os outros posts, mas eu precisava por pra fora um pouco das minhas angústias. Obrigado por me ler e por me acompanhar na jornada. Seguimos caminhando!!

Comentários

Postar um comentário

Postagens mais visitadas