Sobre uma noiva suja e sofrimentos diferentes.

Agora é oficial, já se passou mais de metade de um ano e o discurso continua sendo o mesmo. Eu ainda não estou bem, eu ainda estou sofrendo. A vida e os processos ainda estão difíceis de lidar e minha angústia não chega ao fim. Os últimos 9 meses tem sido os meses mais longos da minha vida. Eu tive várias idas e vindas nesse processo todo. Tive momentos bons e momentos de crise… Todas as vezes em que eu achava que estava me reconstruindo, alguma coisa acontecia, alguma notícia chegava e eu sentia que era como se todas as conquistas fossem por água abaixo.

Recentemente tive de lidar com duas informações difíceis demais de absorver e administrar. A pessoa que me traiu estava passando por um momento de transição em sua vida e resolveu fazer uma celebração. Tive de lidar com a notícia de uma das minhas melhores amigas deliberadamente resolveu comparecer na celebração. Uma pessoa que sabia de toda a história, sabia de todo o processo e sabia dos erros cometidos pela pessoa que me traiu. Essa pessoa, que se afastou muito de mim nos últimos tempos e me deixou sem acompanhamento. Essa mesma pessoa compartilha de momentos junto com a pessoa que me traiu como se eles fossem amigos próximos. Além disso, recebi a notícia de que a pessoa que me traiu se encontrou com outra grande amiga minha de longa data. Eles almoçaram juntos! Talvez você pense que eu estou errado em estar mal e sentir esse “ciúmes”. Talvez pra você as coisas sejam simples de se administrar e de lidar, eu só preciso aceitar que a pessoa que me traiu tem vários vínculos em comum comigo e que esses vínculos não tem de se romper porque a pessoa rompeu comigo. Seria simples se a discussão não fosse pro campo da afirmação de presença… Não é de hoje que eu comento como meus amigos me abandonaram em todo esse processo que eu tenho vivido. Afirmar a presença no momento de crise é extremamente importante e faz parte da cumplicidade de uma relação de amizade. Não peço que resolvam meus problemas, não espero que venham com as respostas perfeitas, não exijo que saibam lidar com as demandas que eu apresento. Só espero que afirmem presença pra mim. Só espero que demonstrem que “estamos com você”. Afirmação de presença foi tudo o que eu não tive nesses 9 meses de crise que vivi. Quando vejo cenas como essa, dos meus grandes amigos, das pessoas a quem eu fui muito chegado, afirmando presença para com a pessoa que me traiu, sendo que esses mesmos amigos não afirmam presença pra mim, não espere que eu saiba lidar da melhor forma… Tenho tentado fazer as coisas se tornarem mais leves. Tenho tentado não cobrar das pessoas um posicionamento ou uma postura. Ter que lidar com a informação da afirmação de presença dos meus “mais chegados que irmão” a uma pessoa que é responsável por grande parte do meu processo depressivo é difícil demais de lidar. Não sou obrigado a “enxergar de forma neutra” ou a “entender os meus amigos”. Afinal de contas, quem é que tem entendido o Bob? Quem é que tem sido solidário com a dor dele nesse momento de crise? Quem é que tem chorado com ele as angústias de não estar bem? Nos últimos 9 meses eu tenho carregado uma angústia profunda e sofrido calado por não poder contar pras pessoas o que realmente aconteceu. O mínimo que eu espero das pessoas que sabem da história real é solidariedade e compreensão. Compreensão de que eu fui ferido, que eu fui machucado… Compreensão de que uma pessoa deixou marcas que não cicatrizaram. Eu preciso lidar com o fato de que meus amigos são amigos da pessoa que me traiu, mas ninguém quer lidar com o Bob depressivo e “esquizofrênico” que tem crises sempre que recebe algum tipo de informação sobre a pessoa que o traiu… Confesso que esse parágrafo todo foi escrito com um grande sentimento de revolta e indignação da minha parte… Talvez eu não o devesse ter compartilhado, mas assumo os riscos de falar da minha dor. Enquanto doer eu vou gritar… Se você vai ouvir meus gritos eu não sei, mas quero que saiba que não grito por sua causa, mas antes, grito por mim, minha causa e minhas motivações!

É muito difícil pra mim perceber que ainda sou um depressivo… Ver que os impactos da depressão ainda são tão fortes em mim. Depois de 9 meses em depressão fica difícil achar que vou ficar bem um dia. Fica difícil achar que vou superar, que vou conseguir lidar bem com tudo o que tenho vivido. A vida tem seguido aos trancos e barrancos, eu vivo me arrastando pra tudo o que eu faço. Não consigo me concentrar para fazer as coisas da faculdade, não consigo ler os textos, nem fazer as resenhas. Não consigo me concentrar pra fazer as coisas acontecerem do jeito que elas devem acontecer e isso me deixa muito mal!! Teve feriado e eu deveria ter passado o feriado estudando várias matérias. Passei o feriado todo em função de fazer uma resenha de uma página. Foi tão difícil e desafiador que fico até com vergonha de falar sobre isso. Eu demorei 3 dias pra fazer uma resenha de uma página. Enquanto todos os meus colegas acharam que uma página era pouco espaço para a quantidade de informações que tinham que colocar, para mim, uma página foi um desafio quase impossível. Eu não conseguia me concentrar, eu não conseguia articular as palavras, eu não consegui produzir. Fiquei 2 dias inteiros sentado na frente do computador sem conseguir escrever a resenha. Eu começava 2 linhas, apagava, começava de novo, apagava. Não consegui finalizar sequer um parágrafo inteiro em um dia inteiro de trabalho. Dizem que é normal que a atenção e a produtividade caiam quando se está com depressão, mas não imaginei que os impactos fossem ser tão grandes assim. Isso também me afeta muito no processo. Não sei como lidar com tanta informação nova e com tanta mudança acontecendo. Eu era aquele Bob que fazia mil coisas ao mesmo tempo, que produzia muito e conseguia render... Eu fazia duas faculdades, era ativo no ministério, tinha bolsa de pesquisa, fazia estágio e dava conta de tudo. Tinha uma agenda cheia e conseguia me articular para atendê-la. Agora tudo é diferente. A única coisa que eu tenho é a faculdade e nem dela eu estou dando conta. Não estou fazendo pesquisa, não estou fazendo estágio, não estou trabalhando e não estou no ministério. Eu só sou um universitário agora e parece que “só isso” já é muito. Preciso me reencontrar nesse processo, restabelecer meu ritmo e redescobrir meus limites...

Escrever esse post foi um desafio de longo prazo. Faz alguns meses que eu não posto nada. Demorei quase 3 meses para escrevê-lo. A faculdade tem tomado meus dias e minhas demandas por completo!!! Das 7 matérias que eu estou fazendo, estou bem apenas em 1. Todas as outras 6 eu estou com dificuldade, não estou conseguindo produzir e isso me deixa mal. É certo que vou pra semana de provas finais, se é que vou conseguir ficar com a nota mínima para isso. Mesmo assim, não vou desistir de tentar. Ainda que eu reprove em tudo, preciso tentar e fazer o meu melhor… O processo não é fácil, mas mesmo assim, preciso tentar.

Mais um feriado aconteceu além do que eu comentei acima. Dessa vez eu viajei para São Paulo com a minha família. De pensar que é Junho e eu ainda não fiz nenhuma viagem sozinho. É certo que se fossem outros momentos essa seria a minha vigésima viagem. Sim, vigésima. Considerando que já se passaram 6 meses e que cada mês tem uma média de 4 fins de semana e eu viajava 3 por mês, fora as viagens de meio de semana, fora os bate-voltas de sábado, já seria minha vigésima viagem. Eu não parava em casa. Agora eu não saio dela. Em São Paulo eu me esforcei para me concentrar no tempo em família e tentar aproveitar ao máximo. Infelizmente não consegui aproveitar. Eu já fui pra São Paulo preocupado, mesmo assim eu precisava encarar o desafio. A pessoa que me traiu está morando em São Paulo. Eu estaria na mesma cidade que essa pessoa. De certo a cidade é enorme (a maior do país) e a possibilidade do encontro é mínima, quase nula. Mesmo assim, controlar as emoções e os pensamentos não é fácil. Estávamos felizes andando pela Avenida Paulista quando eu começo a pensar que vou encontrar a pessoa que me traiu a qualquer momento. Minha respiração começa a ficar ofegante, não consigo piscar os olhos. O desespero começa a me consumir, cada passo que eu dava era como se fosse decisivo no encontro. Comecei a procurar pela pessoa que me traiu em todos os lados. Eu olhava por toda a Paulista, angustiado, procurava pela pessoa o tempo todo. Entrei em pânico, não consegui me controlar. Exercícios de respiração e a ajuda da minha cunhada e grande amiga me fizeram não surtar, mas foi por pouco. Dessa vez o meu estabilizador de humor e ansiolítico não estavam em mãos pra que eu me acalmasse, precisava fazer isso por minhas próprias forças, sem o remédio. Quanto desgaste. Todo o meu vigor foi empenhado nisso. Respirar fundo, tentar controlar a mente e o coração, me concentrar na minha família.

A frustração de saber que isso tudo aconteceu me feriu demais em todo o processo. Ver que eu fiquei mal só revela como eu ainda não estou bem. Ainda estou preso, ainda estou cativo, ainda estou ligado à pessoa que me traiu de uma forma muito profunda e intensa. Minha mente, minhas emoções, tudo isso se perde no meio de tanta angústia e desespero. É mais forte do que eu.

Eu coloquei essa pessoa numa posição que nunca deveria ter colocado na minha vida. Eu dei a ela todo o poder sobre a minha vida. Preciso me resgatar, me recuperar. Acho que ter colocado essa pessoa na posição que eu coloquei na minha vida foi um erro meu e eu estou aprendendo a lidar com isso. Na terapia tenho trabalhado o “resgate” de mim mesmo. Eu que dei esse poder a essa pessoa e sou eu que tem que tomar o controle de volta. Mas também, não tinha como ser muito diferente. Você pode pensar que sim, poderia ter sido diferente, mas na minha realidade não. Vou explicar o motivo. De certo que provavelmente muita coisa fique mais clara e lúcida com o que vou falar aqui. Vou me expor um pouco mais, mas não me importo tanto com isso. Eis os fatos:

Eu tinha um sonho de criança, eu cresci a minha vida querendo muito ser missionário. Ser missionário era tudo o que eu sabia fazer, era o que eu sabia ser, como eu sabia me comportar, era do que eu sabia falar, como eu sabia pensar, do que eu sabia gostar. Eu só pensava nisso. Eu projetei a minha vida pra ser isso. Não dava pra seguir com o meu sonho de vida, com o que me projetei para ser e assumir essa relação. Eu precisava escolher uma das coisas. Essa nunca foi uma crise pra pessoa que me traiu. Dá pra viver o sonho de vida que a pessoa tinha e continuar mantendo o que mantínhamos. Dá pra ser jornalista, economista, dentista, artista e o que a pessoa queria ser e assumir o que estávamos dispostos a assumir. Só que no meu caso é diferente. Não dá pra ser missionário e viver esse caminho. Escolher o ministério significaria renunciar a isso. Tanto que durante o tempo em que eu e a pessoa caminhamos juntos eu SEMPRE fui o elo frágil que problematizava isso. A pessoa nunca se preocupava com isso porque isso nunca foi uma questão pra ela. A entrega não foi igual, a doação no processo não foi a mesma. Colocar essa pessoa nessa posição da minha vida era uma questão fundamental pra mim e pro meu processo. Ou eu viro missionário e rompo em definitivo com essa pessoa, ou abro mão de todo o meu chamado e caminho para o que sentia que devia caminhar. Estamos falando de dimensões existenciais da vida.

A minha depressão hoje não é causada APENAS pelo rompimento de uma relação que não deu certo. O fato de ter perdido o meu ministério, que é aquilo para o qual me projetei ser, também é muito importante no processo. Se eu não tivesse perdido o ministério, talvez eu já teria superado a ruptura. O ponto é que eu perdi as duas coisas. Perdi a minha projeção de vida que construí durante anos (ser missionário) e também perdi aquilo que negociei pra ser minha nova projeção…

O que aprendo nessa história toda é que de fato eu NUNCA deveria ter colocado essa pessoa nessa posição em minha vida. NUNCA deveria ter aberto mão do ministério por essa pessoa. NUNCA deveria ter dado a essa pessoa toda a dimensão da minha vida que dei. Na hora de fazer a escolha entre o ministério e a pessoa eu deveria ter ficado com o ministério.

Por isso que os sofrimentos não são proporcionais. É claro que pra pessoa que me traiu é mais fácil superar, virar a página e seguir. Primeiro porque a pessoa que me traiu não tem que lidar com uma traição. Eu não traí ninguém. Outra coisa que a pessoa não tem que lidar com rejeição. Eu ainda quis manter os vínculos, mesmo depois de descobrir tudo o que estava acontecendo. Além disso, o que estava em jogo pra pessoa que me traiu não era toda a vida dela. A ruptura da relação pra pessoa que me traiu não foi tão intensa e não significou tudo o que significou pra mim (até porque a pessoa que me traiu tinha outra pessoa com que ela também se relacionava [eu fui traído] e se relaciona até hoje). A pessoa que me traiu não precisou ressignificar e reconstruir tudo. Para a pessoa, virar a página e não falar do Bob é fácil. Ainda dá pra falar de jornalismo, de economia, de arte, de ABU, de política, de viagens… É claro que a pessoa não vai importunar ninguém falando do Bob. A pessoa que me traiu conseguiu seguir sua vida, seus sonhos, seus projetos, afinal de contas, ela nunca teve que abrir mão deles. Mesmo no ministério, a pessoa que me traiu não foi afastada, muito pelo contrário. Incorporou novos espaços, assumiu novas posições de liderança. Afinal de contas, a pessoa está bem. Quem foi afastado no processo todo foi eu. Proibido de estar no grupo que eu mesmo fundei. Rejeitado por pessoas que eu treinei e formei no movimento. Experimentando a exclusão do meu próprio grupo base. A pessoa conseguiu se estabelecer e está bem, envolvida no movimento e ativa. Já eu, estou afastado de todos até que resolva tudo o que está acontecendo. Tiraram o ministério de mim!! A pessoa levou tudo o que tinha pra levar da minha vida. Ela matou meus sonhos, roubou minha alegria e destruiu minha saúde!!!

9 meses se passaram e a pessoa que menos está feliz por ainda falar disso sou eu… O mais interessado nessa história toda em “superar” e recuperar sou eu. O mais interessado em conseguir não ficar agitado com cada mensagem que a pessoa manda nos grupos em comum sou eu. O mais interessado em conseguir ver um comentário no facebook de algum amigo comum e não ficar perturbado sou eu. O mais interessado em não entrar em pânico na Avenida Paulista com medo de encontrá-lo sou eu.

O sofrimento que vivo dói na minha família, dói nos meus amigos, mas sobretudo dói em mim e eu não estou satisfeito com ele. Quero superar essa história toda, quero virar a página e seguir.

O ponto de tudo isso, talvez, é que esse processo não é fácil… Não é simples. Não é trivial olhar pra pessoa que me traiu e falar “Olha só, tivemos uma história que deu errado e OK”. Eu amei muito essa pessoa. Superar essa pessoa e essa situação toda tem sido minha decisão todos os dias. Confesso que acho que já tive algum progresso nesse processo. Poxa vida, eu tinha surtos psicóticos ao saber dessa pessoa. Na virada do ano eu tive 3 surtos, sendo um deles de 4 horas. Só Deus e eu sabemos o tamanho dessa angústia e desse sofrimento.

Eu não estou brincando de sofrer, não estou brincando de depressão… Meu processo infelizmente vai levar tempo. A bomba explodiu e destruiu toda a casa. Eu ainda estou vendo os escombros e os pedaços que foram jogados pra lá e pra cá. Preciso limpar o terreno, ver o que foi perdido, o que ainda resistiu da explosão e pensar em como vou me reconstruir… isso tudo leva muito tempo…

Nesse sentido é que eu peço compreensão, acolhimento e entendimento e é o que eu não tenho recebido das pessoas… Ainda tem muita lágrima pra ser chorada, ainda tem muito grito pra ser ecoado e eu não pretendo me privar de vivê-lo… Ninguém é obrigado a ficar do meu lado, ouvindo tudo isso, mas ao mesmo tempo eu também não sou obrigado  a me silenciar no meu processo pra agradar os meus “amigos”. Sabe, as pessoas cansam de ouvir o choro das outras. Os “amigos de alma” se afastam, os parceiros de missão não andam a segunda milha… Nesses 9 meses de sofrimento, as únicas pessoas que estiverem presentes em todo o processo e que não me abandonaram em momento algum foram meu terapeuta, minha família e dois amigos/mentores que moram longe de mim, além da minha atual comunidade de fé, que já me acolheu no meio desse turbilhão de coisas. Os amigos de alma se afastaram, me rejeitaram, não quiseram ouvir meu choro, não souberam lidar… Cada um com seu processo, sua singularidade, com seus motivos. Isso não significa que doeu menos. Algumas pessoas me acolheram no início do processo e depois não quiseram mais saber. Algumas se afastaram por um tempo e agora tentam uma aproximação. Cada um tem uma justificativa, um motivo, uma história. Enquanto eu tenho que me esforçar pra entender cada um que me abandonou, ninguém quer entender o Bob que foi ficando rejeitado sem nada nem ninguém pra se apoiar e seguir.

Hoje eu tenho a oportunidade de engolir o choro e tentar voltar a conviver com as pessoas como se nada tivesse acontecido, OU de continuar gritando minha dor enquanto doer. Uma coisa que tenho descoberto na terapia e muito também com a ajuda da minha amiga e mentora em conversas com ela é que eu fui um menino que SEMPRE se calou pra ouvir os outros. Eu não tinha tempo pra viver os meus processos, pra viver minhas angústias, pra dar voz aos meus conflitos. Eu era pastoral e presente na vida de todos… Eu não tinha tempo pra pensar a minha história com a pessoa que me traiu porque eu tinha que cuidar de tantos outros que viviam crises próximas às minhas. Era a dor de muita gente. O ministério foi essa renúncia de viver os meus processos para afirmar presença no processo dos outros.

Tenho aprendido a me valorizar no processo, a dar voz pro que eu vivo… Eu não vou mais me calar. Fui pastoral com muita gente nos últimos 21 anos. Agora vou ser pastoral COMIGO!!! Vou dar voz às minhas dores, dar vez ao meu processo e dar sentido às minhas contradições. Vou me ouvir…

Aprendi uma coisa muito difícil de aceitar nesse meu processo de doença... Aprendi que a Igreja, o Corpo de Cristo, a Noiva, tá tão suja, tão suja, que algumas coisas fedem mais na noiva do que em quem não é a noiva...

Nesse meu processo de doença e de tratamento, tive de lidar com um preconceito MUITO FORTE vindo do povo do ministério que trabalhava e do povo da Igreja... Os amigos de alma, os companheiros de missão, foram os que mais me abandonaram, os que mais me rejeitaram e me excluíram... Descobri que falaram mal de mim pelas costas, me desmoralizaram diante dos outros, espalharam a minha história como uma fofoca pra que todos soubessem sem que eu contasse. Confidenciei minha vida à pessoas que não honraram esse compromisso. Meus amigos não cristãos, os da faculdade e de outros círculos que eu tenho, foram os que se aproximaram, os que me acolheram, os que se importaram e cuidaram de mim...

Frustrei as pessoas porque eu não consegui ser o "varão valoroso" e perfeito. O Machismo, que é algo estrutural na sociedade, é MUITO PIOR dentro da Igreja... Se pra quem não é cristão já tá difícil lidar com o machismo e suportar essas estruturas heteronormativas opressoras, imagina dentro da Igreja onde todo homem bom tem que buscar ser um "varão segundo o coração de Deus"... O machismo tem fedido mais na noiva do que fora dela... Enquanto a sociedade avança nos debates sobre o masculino, sobre o papel do homem, sobre o papel da mulher (e ainda tem muito o que avançar), a igreja fica sendo retrógrada, machista, opressora, fazendo um desserviço à sociedade e ao meio onde vive... ... Precisamos lidar com esses odores que fedem mais na noiva do que em quem não é noiva... ...

Essa frustração que eu tive com esse meu processo de adoecimento e de perceber o afastamento dos "amigos de alma", foi MUITO DOLOROSA!!!! É muito difícil ver que a noiva, que deveria ser pura e imaculada, tá toda suja, com trapos de imundícia, fedendo odores dos usos e costumes e da religiosidade...

Mas sabe, isso me ajuda a entender que a minha esperança tem que estar no NOIVO e que meu deleite tem que ser o NOIVO!!!!! Jesus é libertador dessas estruturas machistas... Jesus vem pra afirmar que eu sou homem, mesmo com todas as minhas contradições!!! Se a noiva diz que o que eu fiz é imperdoável, que isso é vergonhoso e que não mereço mais respeito. Se a igreja vomita asneiras pela boca quando reforça esse discurso preconceituoso e não acolhedor... Eu BEM SEI EM QUEM TENHO CRIDO!!! Não é na instituição, não é na noiva... É no NOIVO!!!! O Noivo que diz pro homem que ser homem não tem a ver um sistemas de comportamento heteronormativo que diz o que devemos ou não fazer. O Noivo que me acolhe na minha dor, que me recebe na minha subjetividade, me compreende na minha complexidade e me abraça na minha contradição... O Noivo que purifica a noiva. Cristo, o noivo perfeito, vem e diz que eu sou o homem que Ele quer que eu seja!!!! Ele afirma a minha identidade e é nisso que eu tento me apegar... É nisso que eu tento segurar pra suportar a pressão que é viver com as vozes e a opressão da igreja... É difícil, é doloroso, incomoda, machuca, dá raiva, dá ódio, tira a gente do sério... ... Mas o desafio da fé cristã é esse TAMBÉM!!!! Permanecer firme...

Muita coisa aconteceu nos últimos 9 meses, mas muita coisa ainda tem que acontecer. Não pretendo desistir de continuar essa caminhada em busca da minha recuperação e da minha superação. Ainda estou muito longe de onde preciso e quero chegar, mas já estou um pouquinho mais perto do que eu estava 9 meses atrás e isso significa que estou no caminho!!!

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