Eu, caçador de mim


... 
"Por tanto amor
Por tanta emoção
A vida me fez assim
Doce ou atroz
Manso ou feroz
Eu, caçador de mim"


Acho que pra expressar tudo o que se passa comigo e em mim nesse momento, a letra dessa música vem muito à calhar. Pensar sobre tudo o que tem acontecido nesses últimos 23 anos de idade é pensar sobre um processo de busca de mim mesmo. Um processo de encontros e desencontros entre o meu eu comigo mesmo.

Da igreja pentecostal de um bairro de periferia à uma igreja orgânica formada por uma “elite intelectual” da teologia alternativa em Curitiba. De missionário exemplar cujos mantenedores eram fiéis à doente mental surtado sem dinheiro pra comprar os remédios. O que aconteceu comigo? Onde foi que eu me perdi? Onde foi que eu me encontrei?

Entre livros, artigos, pesquisas e produções acadêmicas diversas (e adversas), me inquieto com o pós-estruturalismo e me encanto com o existencialismo. As duas correntes me forçam (de forma convidativa) um olhar sobre o mundo (aquela tal da cosmovisão) e um olhar sobre mim mesmo que rompe a lógica, transcende as meras formalidades e que me torna esse sujeito subalterno, transgressor e irreverente que olha pro mundo com os olhos de quem não se fará mais mutilado pra caber em padrões impostos que não falam sobre mim.

Mas afinal... O que fala sobre mim? O que fala de mim? QUEM fala de mim?

Entre idas e vindas, o que se sabe é que a fofoca está posta. Comentários sem fim sobre “o que eu me tornei”, sobre “o que eu virei” e sobre qualquer outra coisa que reflete o vazio ocupacional que as pessoas tem para serem vigilantes virtuais da minha suposta "intimidade" e que se usam das frívolas e limitadas postagens nas redes sociais pra me enquadrar em padrões, normativas, caixas e conceitos que falam de muita coisa, menos de mim! Se quer me deram a oportunidade da conversa e do confronto.

Falaram que se eu quisesse que os comentários passem, que eu então parasse de postar. É essa a democracia que temos em termos de “liberdade de expressão”, que vexa os limites e fronteiras do silenciamento dos subalternos que podem sim e vão falar (SPIVAK, 1983). Essa voz que tentam tirar de mim ou que se sentem na gentileza de “me dar”, na verdade é e sempre foi minha. MINHA VOZ! 

A voz da dor, do silenciamento e do silêncio. Voz que clama no deserto: PREPAREM O CAMINHO, ENDIREITEM SUAS VEREDAS!

Foi Por tanto amor à missão, ao ministério e a quem me disseram desde os 8 anos de idade que eu seria, que eu vivi muitas das experiências mais marcantes da história da minha vida! Foi Por tanta emoção que eu sofri e me alegrei com tanta intensidade com cada situação peculiar, particular e especial dos casos em que tive contato. Cada narrativa, cada trajetória. A vida me fez assim. Esse jovem que sonha, que vive intensamente, que sofre, que ama, que odeia, que perdoa, que pede perdão, que guarda rancor, que tem mágoa, que tem esperança! A vida me fez ter sonhos acompanhados de desilusões. Entre os pés no chão e a cabeça nas nuvens, exercito minha flexibilidade para PERMANE(SER) vivo, autêntico e autônomo sobre mim e meus processos.

O avançar da caminhada também passa pelo voltar e voltar não precisa significar um retrocesso e ainda que signifique, é também um recomeço!

Eu faço 23 anos e volto "ao ministério" com apenas 2% dos mantenedores que tinha.
Eu faço 23 anos e volto "à missão" com uma demanda maior do que a que tinha
Eu faço 23 anos e volto à universidade com mais matérias acumuladas e DP's
Eu faço 23 anos e volto ao mundo acadêmico fazendo uma pesquisa que me desafia
Eu faço 23 anos e volto ao lar, lidando com as complexidades do "ser família"
Eu faço 23 anos e volto ao meu quarto, chorando na manhã fria de Curitiba, por estar só e em crise.

Eu faço 23 anos e volto... Eu faço 23 anos e avanço...


"Preso a canções
Entregue à paixões
Que nunca tiveram fim
Vou me encontrar
Longe do meu lugar
Eu, caçador de mim"
Prisão é clausura, é cerceamento, é privação de liberdade. Prender é atar, é vincular, é anexar Quando eu me prendo, eu me enlaço justaposto. O ato de prender nem sempre significa a consequência de algo ruim. Quando a/o chefe da tripulação diz "senhores passageiros solicitamos que permaneçam PRESOS à seus cintos durante toda a decolagem, até que o aviso luminoso seja apagado", não estamos aqui falando de um ato consequência a um delito. Estamos falando de uma questão de segurança. Uma canção que me prende pode ser um ato consequência de uma ação ruim ou um ato de segurança e prevenção contra uma possível turbulência. Se estou Preso à canções vivo o dilema de qual prisão estou falando. A que me dá segurança, ou a que me marginaliza? No meu caso, a segurança que eu encontro está na margem de uma paixão entregue.

Estar entregue à paixões que nunca tiveram fim é assumir pra si o papel de humano e de exposto. Acho que a entrega desmedida gera prisões marginais. Mas qual a opção pra mim? O amor que senti e a paixão que tomou de assalto meu coração já eram, em si mesmos, marginais. Viver esse amor marginal tem como pré-requisito uma entrega desmedida. Se estou Entregue estou rendido. Já não sou mais meu. Quando compro um presente a alguém, esse presente é meu, eu o tenho em minha posse até o momento da entrega. Quando eu entrego eu perco a posse, deixa de ser meu. Estar entregue é estar consigo sob posse de outra pessoa, mas esses sintomas não são graves, pois é algo comum das pessoas apaixonadas. A saúde da entrega está quando ela é mútua e da entrega temos uma troca. Na troca, a mutualidade faz com que haja harmonia e o vazio some. BASTA! Se essas canções e paixões nunca tiveram fim, é hora de dar um fim a elas. Mas que tipo de fim? Fim de final ou fim de finalidade? Pois bem, essas canções e paixões nunca tiveram fim(finalidade), portanto tenho dito, ponho agora o fim(final) a elas (as canções e paixões) e retomo as rédeas da minha vida!

"Pra quem não sabe onde quer chegar, qualquer caminho serve", já diria o poeta. Quando eu tenho um destino, o "ir" se torna mais seguro. Conversava com uma amiga sobre a vida e sobre o sopro! A gente só sabe a direção de um sopro quando o sente e para sentir o sopro ele já tem estar sendo soprado. Só se sabe a direção do vento quando as folhas já estão flutuando na direção dele. Não há previsão ou controle (colegas da climatologia, to sendo só alegórico aqui, rsrsrs'). A vida é sopro, a vida é vento. A vida é essa pulsão que surge à partir da Santa Ruah! RUAH! O sopro de vida! O final desse caminho eu só descubro caminhando, não faço ideia de onde vou chegar, mas sei sim qual é o destino! O paradoxo se encerra quando eu "Vou ME ENCONTRAR". É pra lá que eu vou. Vou percorrer o caminho do autoconhecimento! Vou me desnudar diante de mim mesmo! E onde é esse destino? Não sei ao certo, o que sei é que ele é "Longe do meu lugar" e é aí que eu me encontro. Longe de onde estava, longe da zona de conforto do meu ego e do meu orgulho!

É isso, me construo, me defino, me faço, me desfaço, me refaço!

EU, CAÇADOR DE MIM!

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