“Meu templo, minhas regras!” assim diz o Senhor - Uma abordagem teológica sobre o corpo como templo do Espírito e a dança fora da igreja

12 de janeiro, sexta-feira, 23:22 - Eu estou ouvindo uma música que canta o pai nosso, (chama "Pai Nosso") e aqui no meu Spotify quem canta é o "Pedras Vivas". Eu nem sabia que existia um grupo de música com esse nome. Acabei de assistir uma live de um congresso de dança onde teve dança espontânea, bandeiras de seda, aquelas roupas largas que quando você gira dá o maior movimento. Um monte de sapatilhas, pessoas, emoções. Uma metalinguagem toma conta do lugar. AHhh, como eu amo a metalinguagem! Minha cabeça começa a entrar numa coreografia difícil de dançar. Minha mente começa a girar em passos complexos de acompanhar. O que teria acontecido comigo se eu nunca tivesse saído desse universo? E se eu tivesse ido praquele seminário de “louvor e adoração” e de “missões” daquela banda famosa que é nos arredores da capital de Minas? Sim, pra quem não sabe eu SEMPRE SONHEI em ir ao CTMDT, inclusive eu nem queria fazer faculdade. Lida com isso, universo! E se eu não tivesse ido pra faculdade e me envolvido com a agência missionária que me envolvi? Eu não teria conhecido quem me fez tanto mal… Eu não teria feito mal a tanta gente! E se… E se… … Eu precisei passar por tudo o que passei com TANTA gente falando que eu sou das artes pra aqui, aos 23, me ver voltando a gostar de ler, assistir e pensar sobre arte, corpo, dança… Calma calma, mas agora, “como acadêmico”, né?! Deixa eu pegar aqui uns temos difíceis e umas palavras rebuscadas pra maquiar o fato de que quero falar sobre dança na igreja e liberdade do Espírito. Estudos de performance, antropologia do corpo. Quero saber o que o “verdadeiro conhecimento” tem a me oferecer. Essa arrogância que a gente ganha de brinde ao se tornar acadêmico. Confesso que é difícil lidar com isso. Me sentindo no direito de questionar tudo ao meu redor! E se eu tivesse me enfiado de cabeça nesse universo alienado da espiritualidade e não me permitisse mudar pra ser como sou hoje? Será que eu estaria assim como eu estou hoje?
"- Foi bom ter vindo - disse ele.
- Aslam, como você está grande!
- É porque você está mais crescida, meu bem.
- E você, não?
- Eu não. Mas, a medida que você for crescendo eu permanecerei maior e seus olhos.
Lúcia sentia-se tão feliz que nem queria falar. Aslam quebrou o silêncio.
- Lúcia, não podemos nos demorar muito aqui. Vocês tem uma tarefa a cumprir e hoje já perderam muito tempo
- Que vergonha, não acha? Tinha certeza de que era você. Mas eles não quiseram acreditar… São todos uns…
Lá muito dentro, das próprias entranhas de Aslam, veio qualquer coisa que, vagamento, sugeria um rosnar de impaciência.
- Desculpe! – disse Lúcia, ao entender tudo. – Não queria pôr a culpa nos outros. Mas a verdade é que a culpa não foi minha.
O Leão fitou-a bem nos olhos.
- Oh, Aslam, acha que eu errei? Como é que eu… podia deixar os outros e vir sozinha encontrar-me com você? Não olhe para mim desse jeito… bem… de fato… talvez eu pudesse. Sei que com você não estaria sozinha. Mas ia adiantar alguma coisa?
Aslam não respondeu.
- Mesmo assim teria sido melhor? – Perguntou Lúcia, com voz sumida. – Mas como? Aslam, por favor, diga-me.
- Dizer o que teria acontecido? Não, a ninguém jamais se diz isso.
- Oh, que pena! – Exclamou Lúcia
- Mas todos podem descobrir o que vai acontecer – continuou Aslam. – Se voltar agora e acordar os outros para contar-lhes outra vez o que viu, e disser que eles se levantem imediatamente e me sigam… que acontecerá? Só há um modo de saber…”
Crônicas de Nárnia – Príncipe Cáspiam, Capítulo 10
Aff, Bob, vai começar a falar sobre arte também? Pois é, gente, a galera vive dizendo que "o bom filho a casa torna" ou "o bom filho ao lar retorna", enfim... Dizem até que isso é versículo bíblico, hahaha.

PS: Só pra esclarecer, não é versículo bíblico, tá, pessoal? Tem a história do filho pródigo que retorna ao lar e tal e de fato esse ditado popular faz todo o sentido com a história, mas essa frase não tá na Bíblia, show? Então showdy!

Quem conhece minha história sabe que eu cresci nas artes. Mais especificamente na Arte Gospel. Cresci dançando na igreja, sonhei com o dia em que iria um congresso de dança da Lagoinha, me via com aquelas roupas largas que dão movimento. Eu fiz fitas de ginática com palito de churrasco e custurando fitas de medalhas que ganhei, fiz swing poi de jornal. Me esforcei pra viver ao máximo tudo o que fosse próximo desse universo, enfim, fiz dessa realidade a minha pelo tempo que foi oportuno e possível. O ponto é que a trajetória acabou fazendo eu me afastar desse universo. Me esforço em evitar a autosabotagem de tentar transformar essa conversa em algo positivista do tipo "Bob, você se arrepende?" ou algo como "Nossa, se você não tivesse saído desse universo talvez..." Talvez nada! As trajetórias são únicas!

QUANDO O AMOR ACONTECE…

A verdade é que conheci alguém. A verdade é que de uns tempos pra cá eu me pego no ápice das minhas contradições. Lembra aquele Bob que pregava castidade e pureza, mas tinha um namorado escondido? A contradição dele foi exposta! Pois bem. Deixa eu falar da minha contradição agora que não tenho mais medo nem vergonha de ser esse sujeito contraditório e complexo! A verdade é que esse Bob do discurso todo descolado de “liberdade dos corpos” tá gostando muito dos limites que tem posto a si próprio. E a verdade é que esses limites nem são parte de um processo de consciência natural autocentrado. É um processo outrocentrado. É um processo relacional! O que eu to querendo dizer é que não to elaborando as coisas por mim mesmo… Todo esse novo comportamento que eu tenho tido faz parte da participação de alguém na minha vida!! Ele me mudou demais e a verdade é que eu to amando essa mudança!!

Temos orado. Tem sido estranho pra todo mundo, especialmente pra nós! Não cabe falar muito aqui sobre isso, mas só quero deixar claro que a única certeza que eu tenho é que persevero desejoso de que Deus fale comigo sobre Sua vontade pra mim! Quero que Ele conduza meu caminhar conforme o que Ele quer estabelecer!

Bob, até agora já lemos um monte de coisa e nada de entender porque você colocou esse título no post. Pois bem, vamos falar disso. Sobre as mudanças na minha vida eu deixo pra outro post (mais um daqueles rascunhos que ficam mofando na minha caixa de textos pro blog e que eu nunca publico).

E POR FALAR EM ARTE…

De uns tempos pra cá eu tenho me aproximado das discussões sobre Arte na igreja. Tenho me inserido nesse espaço, tenho sido devolvido pra esse lugar de discussão e debate. Voltei a falar sobre “dançar no mundo” sobre “unção de dança” sobre “adoração com entendimento”. Comecei a fazer parte da história de gente que cresceu nesses congressos que eu tanto quis crescer. Comecei a fazer parte da história de gente que ainda está muito inserida nesses espaços. Esse debate voltou a fazer parte da minha vida. E quer saber? Eu to gostando muito! Muito mesmo!

Dane-se se acham esse tipo de debate raso, inculto, não acadêmico, nada existencialista (na verdade, muito, tá, mores?)… A verdade é que eu gosto mesmo de estar nesse espaço. Gosto de falar dessas coisas.

Enquanto assistia ao Congresso de dança da igreja eu me peguei numa experiência gostosa. De certo que eu fiz uma análise performática, desde os conceitos de performance que pesquiso (Stanislaviski, Stella Adler, Roselee Goldberg, Jorge Glusberg e outros), mas de alguma forma eu, depois de muito tempo, me permiti por em prática o que tanto falamos nos livros. Performance é experiência! Depois de tanto tempo travando em mim a liberdade da experiência, esse Bob que é tão “culto” e “teórico” e “crítico” e “complexo” e “blablablá” se permitiu viver a experiência da performance no máximo da sua proposta filosófica e teórica. A EXPERIÊNCIA PRÁTICA (e se quiser chamar a frase de redundante, esteja a vontade). Encontrei beleza nos gestos, na música de fundo. Sorri ao ver corpos livres em realizar os movimentos sem preocupações tão métricas, tão metódicas. Havia técnica sim, como a gente sempre tenta explicar “Performance não é bagunça” hahaha… Mas havia também prazer, havia alegria, havia liberdade. Partindo da ótica cristã, me permito dizer, em termos teológicos, que havia PLENITUDE!

Acho que é um pouco sobre isso que quero falar. Como dá pra ver, tem muita discussão possível a partir das muitas coisas que acontecem na mente de uma pessoa que está tendo uma crise de Pensamento Acelerado nesse exato momento. Com o tempo a gente vai aprendendo a tirar o melhor das nossas crises e a fazer delas motor de produção de muita coisa bonita! Não que não fizéssemos antes, porque há beleza no caos, mas quando passamos a contemplá-lo, nosso coração se aquieta com o fato de estar inquieto e irriquieto. Mas uma coisa boa que acontece quando eu “estou em SPA” (SPA é Síndrome do Pensamento Acelerado, gente) é que sempre que eu leio depois os meus textos eu lembro de pesquisar várias coisas que eu fiquei pegando aqui. Eu ‘tenho tido’ mesmo muito mais vontade de escrever e produzir coisas sobre arte! Gosto da ideia de estar voltando pras artes! Na verdade acho que todas as experiências que eu vivi (desde Arquitetura e Urbanismo, até me envolver no ministério, as discussões sobre corpo, as matérias que eu puxei de Antropologia na faculdade, as palestras e cursos extras que eu fiz) foram ótimas maneiras de me preparar pra viver o que estou vivendo hoje em dia. Sim, provavelmente teremos um Bob falando mais sobre arte em 2018.

NOTA MENTAL: Voltar a procurar bibliografias que falem sobre: performance, corpo, espaço, espiritualidade, sagrado, teologia do corpo, religião e rito, liturgia, história da arte, história da arte sacra. Fontes e autores nas Artes Dramáticas, Teatro, Dança, Performance, Geografia Cultural, Geografia Social, Antropologia Social, Antropologia Cultural, Antropologia do Corpo, Teologia Sistemática e Teologia Bíblica. Tentar propor um “Ensaio sobre uma performance holística do corpo na espiritualidade subalterna do cristianismo”.

Bom, a música segue tocando aqui. Hoje é daquelas madrugadas que vai longe com a mente ligada e em alta potência. Coloquei a música pra repetir!
Pai nosso, nos céus
Santo é o Teu nome
Teu reino buscamos
Tua vontade seja feita
Na terra como é nos céus
Deixe o céu descer
Na terra como é nos céus
Deixe o céu descer
Deixa o céu descer
Teu é o reino
Teu, o poder e Tua é a glória
Pra sempre, amém
Gosto de músicas que cantam a Bíblia. Especialmente as que cantam a bíblia desse jeito, pega um texto completo e recita ele por si só. Quando a galera amarra versículos soltos pra fazer uma letra que faça sentido pra elas eu até acho que pode sair coisa boa, mas não sei se estamos falando da mesma poética. A ideia do texto pelo texto como experiência me alegra! Essa música em epecial me toca mais porque ela canta uma oração! Inclusive, uma oração que é central no cristianismo!

UMA CONVERSA TEOLÓGICA

Um dos debates que me ocorre ultimamente é sobre a coisa do dualismo “Sagrado e profano” da coisa do “lugar sagrado” como espaço físico e do “lugar da dança” na espiritualidade e na vida das pessoas como espaço simbólico. Faz MUITO TEMPO que eu não discutia isso porque eu to num momento da minha vida onde não é mais meu contexto de discussão, então eu acabo não precisando me esforçar muito pra refletir sobre essas coisas, elas só são, entende? Eu só tenho as ideias e elas estão lá… Pra mim algumas coisas já estão postas. Todo mundo sabe que a característica da inércia (aquele lance de corpo que está parado tende a ficar parado e corpo em movimento tende a estar em movimento até que algo gere a inércia que rompa com essa tendência de se manter no estado como está) é o atrito. Amigos que são melhores na física me corrijam por favor. Mas eu lembro alguma coisa de que na inércia a gente sempre vai ter atrito. Bom, acho que é mais ou menos sobre isso. Atrito! Pensar e se expor a sair de um determinado estado de pensamento (seja ele a estagnação de ideias paradas e rígidas demais que não se permitem mudar, ou de um movimento de pensamento progressivamente igual em seu modelo que é previsível e do mesmo modo confortável) é gerar atrito! Vai gerar atrito pra sair da mesmice e também vai gerar atrito sair desse movimento de “constante mudança igual”! Metamorfose é desconfortável em qualquer sentido!

Falando sobre essa coisa da dança, a gente pauta muito a coisa dos lugares onde podemos dançar, de quais as fontes que podemos ter para produzir nossas danças. E não só dança, mas música, artes plásticas, etc… A gente acha que isso é exclusividade de movimento pentecostal da década de 80, mas ano passado mesmo eu fiz uma “escola de missões” que ficava ensinando que arte boa é quando no final dela tem apelo, ou quando, se for artista plástico, pintar uma cruzinha, ou um peixinho, pra deixar CLARO que “sou de Jesus”. É, meus amores, não tá fácil pra ninguém. Galera com mestrado e doutorado reproduzindo isso. Como é que é, acadêmicos? Discussão rasa que fala, né?

Essa visão binária e dual sobre “santo e profano” “secular e sagrado” essa divisão sobre “coisas do Reino Eterno e coisas deste século” entre “coisas de Deus e coisas do mundo” e todas essas demais formas de pensar estão mais presentes do que imaginamos. A galera muda o odre e a gente fica aqui falando de “odres novos” mas a gente continua reproduzindo vinho velho. A gente tá aqui na superfície rasa achando que “missões urbanas” é dançar com jeans e camiseta xadrez e que “evangelismo criativo” é usar uma maquiagem mais arrojada com uma coreografia com boas piruetas (mas assim, piruetas com técnica tá, pessoal?) na hora de dançar na praça pública. A gente tá perdendo tempo mudando odre, mudando odre, enfeitando odre mas continua aqui ó, preocupado com estética! Achando que somos uma igreja urbana, uma igreja contextualizada porque a gente aceita tatuagem, não escandaliza com falar palavrão e até bebe uma cerveja de vez em quando. A gente fala descolado, o discurso jovem, tipo assim, tá ligado? É isso que é contextualizar… Nossa, como a gente é sensacional! Muito igreja dialogando com a famigerada “cultura jovem global”. Isso aí é igreja missional, pessoal! Nesse mesmo curso de missões que eu fiz eu perguntei sobre agendas missionárias contra o machismo, o racismo e daí eu ouvi do professor que “a gente não tem que se preocupar com isso não.” e que isso é coisa de gente influenciado pela cultura deste século.

E o que isso tem a ver com dança, Bob? E o que isso tem a ver com o título do seu texto?

Tá, acho que essa introdução me permite chegar onde quero chegar. Perdão a quem achar que fui prolixo para falar sobre meu ponto!

Vejam, gente, vou tentar começar a falar sobre isso a partir de uma parábola não muito conhecida da forma com que vou apresentar, muito CONFUNDIDA e muito utilizada no sentido inverso. Vamos falar sobre a parábola das minas? O texto que eu quero usar é o de Lucas 19. Pra quem tá acostumado com reflexões sobre 3 versículos no máximo eu lamento, a gente vai ler do versículo 11 ao 26. Minha  tradução utilizada aqui é a Nova Versão Internacional (NVI).
A Parábola das Dez Minas
11 Estando eles a ouvi-lo, Jesus passou a contar-lhes uma parábola, porque estava perto de Jerusalém e o povo pensava que o Reino de Deus ia se manifestar de imediato. 12 Ele disse: “Um homem de nobre nascimento foi para uma terra distante para ser coroado rei e depois voltar. 13 Então chamou dez servos e lhes deu dez minas. Disse ele: ‘Façam esse dinheiro render até a minha volta’.
14 “Mas os seus súditos o odiavam e por isso enviaram uma delegação para lhe dizer: ‘Não queremos que este homem seja nosso rei’.
15 “Contudo, ele foi feito rei e voltou. Então mandou chamar os servos a quem dera o dinheiro, a fim de saber quanto tinham lucrado.
16 “O primeiro veio e disse: ‘Senhor, a tua mina rendeu outras dez’.
17 “ ‘Muito bom, meu bom servo!’, respondeu o seu senhor. ‘Por ter sido confiável no pouco, governe sobre dez cidades.’
18 “O segundo veio e disse: ‘Senhor, a tua mina rendeu cinco vezes mais’.
19 “O seu senhor respondeu: ‘Também você, encarregue-se de cinco cidades’.
20 “Então veio outro servo e disse: ‘Senhor, aqui está a tua mina; eu a conservei guardada num pedaço de pano. 21 Tive medo, porque és um homem severo. Tiras o que não puseste e colhes o que não semeaste’.
22 “O seu senhor respondeu: ‘Eu o julgarei pelas suas próprias palavras, servo mau! Você sabia que sou homem severo, que tiro o que não pus e colho o que não semeei. 23 Então por que não confiou o meu dinheiro ao banco? Assim, quando eu voltasse o receberia com os juros’.
24 “E disse aos que estavam ali: ‘Tomem dele a sua mina e deem-na ao que tem dez’.
25 “ ‘Senhor’, disseram, ‘ele já tem dez!’
26 “Ele respondeu: ‘Eu lhes digo que a quem tem, mais será dado, mas a quem não tem, até o que tiver lhe será tirado. 27 E aqueles inimigos meus, que não queriam que eu reinasse sobre eles, tragam-nos aqui e matem-nos na minha frente!’ ”
Primeira coisa importante pra esclarecer. Não há consenso na interpretação bíblica sobre a derivação igual dessa parábola com a parábola dos talentos em Mateus 25: 14-30. Embora muita gente diga que são referentes à mesma parábola, TEM MUITOS ELEMENTOS QUE NOS PERMITEM DIZER QUE NÃO SE TRATAM DO MESMO RELATO! To falando isso aqui só pra esclarecer que eu vou me ater a pensarmos SOBRE O TEXTO DE LUCAS, que é nesse texto que nós vamos concentrar tá?? Tem muita coisa parecida? Tem sim, claro que tem! Mas ao mesmo tempo tem umas informações discrepantes que nos deixam sem tanta certeza! Meu ponto aqui com esse parágrafo é só que, quando a gente fala sobre pensar a fé cristã numa perspectiva bíblica a gente corre muito esse risco, de chegar pro texto com nossos conceitos prontos e não se deixar levar pelo texto que acabamos de ler. Meu convite aqui é pra deixar a bíblia e esse texto de Lucas desafiar a gente!

ENTENDENDO O TEXTO – ASSESSORIA DE PROJETOS PRA DEUS!

Bom, a gente tá aqui vendo Jesus contar uma parábola pra um monte de gente que tá achando que o Reino de Deus vai se manifestar numa cidade específica e num tempo específico. Gente que acha que o Reino de Deus tem hora e lugar marcado. “Jesus passou a contar-lhe uma parábola, PORQUE estava perto de Jerusalém e o povo pensava que o Reino de Deus ia se manifestar de imediato”. É isso que tá escrito ali, gente. Essa parábola só foi contada porque tinha gente achando que o Reino de Deus ia se manifestar de imediato na cidade de Jerusalém. A primeira coisa que a gente tem que entender aqui é que, no que se refere a Jesus Cristo e Seu Reino, toda a discussão que eu sei que existe em torno de “você tem usado seus talentos pra glória de Deus” e “o que você tem feito com o que o Senhor tem confiado a você?” só acontece porque Jesus tá querendo explicar pro pessoal que NÃO É EM JERUSALÉM!! Toda a parábola é proposta por um motivo simples: gente achando que pode definir ONDE E QUANDO o Reino pode se manifestar! Gente que acha que pode oferecer assessoria de Projetos pra Deus e dizer pra Deus onde é o lugar mais adequado para exercermos e investirmos as riquezas que Ele nos confia!

Eu confesso que pra mim ainda custa entender porque é que tem tanta gente fissurada assim em Jerusalém. Eu já fui um desses, na época de seminarista pentecostal, mas eu mesmo lembro que não sabia muito bem explicar o motivo. Uma galera que não entendeu que quando véu rasga é pra que a glória encha TODA A TERRA, uma galera que não entendeu que quando a gente fala de “verdadeiros adoradores em Espírito e em Verdade” a gente tá falando de entender que NÃO É NEM NO MONTE E NEM EM JERUSALÉM O LUGAR QUE SE DEVE ADORAR! Mesmo na dança a gente tem muita gente que fica se esforçando em reproduzir danças judaicas, vestimentas judaicas. Primeiro que a gente precisa conversar sobre o que essa galera tá entendendo sobre Jerusalém, qual a leitura que esse povo tá fazendo sobre os textos. É um tal de ir dançar em Jerusalém, ir pra Jerusalém usar quipá. Nada contra mímese de outras culturas, galera, mas o que me incomoda é a sacralização e a motivação dessa reprodução. Galera, o que mais que Jesus precisa falar pra gente entender que NÃO É LÁ O LUGAR? Deixa a capital da Palestina em paz. Além disso, se for pra falar de “dança com liberdade” e se for pra falar do Estado de Israel, vai pra Tel-Aviv que tem umas baladas incríveis  lá (porque a galera tem uma fissura com Israel, né?! Povo usando bandeira do Estado de Israel pra lá e pra cá, reproduzindo discurso xenofóbico, intolerância religiosa, um estadismo BIZARRO, que surgiu de uma CONFUSÃO MEDÍOCRE das coisas que em NADA tem a ver com o Reino de Deus. Disso aí pro Sionismo é um pulo, galera).

PS: Pra quem não sabe, é importante avisar que eu sou pró Palestina e tenho razões bíblicas pra defender essa nação! O povo palestino é um povo que merece reconhecimento e legitimidade e Jerusalém é sua capital! A gente pode ter essa discussão mais tarde, se quiser! Eu também era super #teamIsrael e achava o máximo ser ungido e depois passarem a bandeira do ESTADO de Israel na minha cabeça, mas daí eu comecei a estudar Teologia e Geografia e sabem como é, né, faculdade faz a gente ver umas coisas que antes a gente não via e que são muito delicadas. Tentando sair da mera arrogância e rigor acadêmico, teve o lance das experiências e das pessoas. Depois disso eu conheci gente que VIVEU na Palestina (meu irmão morou lápor 3 meses, a convite do Conselho Mundial de Igrejas em parceria com a ONU pra observar o conflito. Junto dele vários amigos meus) e cara, as histórias são muito diferentes do que a gente vê, viu? De todo jeito, achei importante colocar essa observação aqui.

A LIBERDADE DO ESPÍRITO TOMA CONTA DO QUARTO

O ponto aqui, pra além da discussão do conflito Israel Palestina, é que tem um Rei que confia em mim Suas riquezas. Ele é meu Senhor e o que Ele espera é que eu seja um bom mordomo! Esse texto vai ensinar pra gente com toda a firmeza do mundo que investir nas riquezas que o Rei confiou a mim é SAIR DO MEU LUGAR! Esse homem nobre de nascimento “foi para uma terra distante para ser coroado rei e depois voltar”. Terra distante é além das fronteiras, galera! O que Jesus tá ensinando aqui é que o governo d’Ele tá MUITO ALÉM daquilo que a gente domina e entende! Esse Rei tá governando aquilo que nem tá no meu conhecimento! A gente tá aqui preocupado com Jerusalém e Jesus tá dizendo pra gente que até na terra distante da Disney ele é coroado rei! Enquanto a gente tá falando aqui das riquezas desse nosso lugarzinho, Ele tá falando pra gente que “olha só, eu sou o dono da porra toda, tá? é TUDO MEU!”

Eu não parei de ouvir a música do espontâneo que vi na live e nesse exato momento eu to ouvindo:
Teu é o reino
Teu, o poder e Tua é a glória
Pra sempre, amém
Eu me pego mexendo o corpo com tamanha liberdade. Acho que na verdade eu tava com saudade desse Bob que, mesmo desprovido da técnica, da flexibilidade e da coordenação necessária, dança espontâneo. O Bob que se deixa envolver pela batida, pelo ritmo, pela melodia. O Bob que faz do corpo a expressão da oração que o português não consegue traduzir! Aquela linguagem que Eu e Ele temos e que é preciosa! Eu li algumas coisas sobre performance. Eu pesquiso isso, mas sabe, na prática é tão mais intenso! Eu não tenho técnica, é verdade! Eu não fiz jazz nem ballet desde os 7 anos. Meus cursos de dança foram todos em formação de teatro ou em congressos de dança de igrejas. Minha panturrilha não aguenta meia ponta por muito tempo e meu attitude é meramente um joelho flexionado e um pouquinho inclinado. Mas acho que performance é, dentro outras coisas, também isso. É a beleza da interação! É a experiência!

VERDADE SEJA DITA

A gente, como igreja, cria nos nossos artistas um medo de profanar a arte deles e não estimula eles a se inserirem nos espaços pra mostrar uma arte relevante nos outros contextos que não o cristão! Eu tenho muitos amigos artistas. Cristãos e não cristãos. É engraçado ver como os artistas cristãos tem OS MESMOS NOMES das MESMAS pessoas como se fossem ícones. Quando eu chego pros colegas artistas de outros espaços (que não os cristãos) a reação é a mais engraçada. “Fulano? NUNCA NEM VI!”. É engraçado, mas infelizmente é assim. A galera fica reproduzindo arte pra dentro! Esses dias eu passei vergonha porque fui falar de uma professora com doutorado na Europa e daí a galera começou “ah, fraca, né? referencial teórico ruim, técnica péssima” e isso porque na semana anterior vi gente que faltou pedestal pra colocar a pessoa. Veja, gente, críticos a gente tem EM TODOS OS ESPAÇOS E DE TODOS OS LUGARES. A única coisa que me chama a atenção nesse processo aqui, é que, do ponto de vista da ARTE, me incomoda muito o fato de APENAS ARTISTAS CRISTÃOS consideram essas pessoas GRANDES ARTISTAS… Se o assunto fosse espiritualidade, ou ARTE CRISTÃ, tudo bem… Se o assunto é GEOGRAFIA DA RELIGIÃO e a pauta é cristianismo, ok que o consenso venha de um grupo específico. O ponto é que, se o assunto é GEOGRAFIA, não parece estranho que só cristãos apreciem a geografia que eu produzo? Fica estranho demais! Não to falando de arte religiosa, to falando de arte. Técnica, Dança! As vezes eu acho que a gente PERSONALIZOU DEMAIS as figuras! A gente tem medo de questionar, medo de dizer que aquela pessoa lá não é tão boa quanto pintam ela! A gente tem medo de desafiar e isso tudo PORQUE A GENTE TEM MEDO DE SAIR DO NOSSO ESPAÇO! A gente tem medo de ir fazer um curso de Jazz em uma escola que não seja cristã. A gente tem medo de ir fazer faculdade de Dança, ou Educação Física, ou Fisioterapia, ou Letras, ou qualquer coisa, porque a gente não quer se expor a esse mundo perverso a essa arte “secular”. A gente fica aqui, enterrando a mina no nosso terreno. A gente enterra tudo retroalimentando nosso próprio discurso! Percebem como isso é prejudicial e danoso? É um medo tão grande de apostasia e profanação que eu fico me perguntando pro pessoal cade a marca de Cristo na vida desse pessoal? Que experiência fraca com o evangelho pra apostatar assim.

Gente, vamos sair da mediocridade. Pega a mina e a riqueza que teu Senhor te deu e SAI POR AÍ, MUNDO A FORA INVESTIR! SAI SEM MEDO, até porque O SEU SENHOR É REI DE TUDO!! Quando você achar que você foi longe demais, lembra que a terra “distante” que o texto fala não foi a terra onde os servos foram investir… A terra distante do texto é aquela onde o Senhor foi COROADO REI!! Vai fazer curso de dança fora, vai participar de festival de dança fora, galera!!

Sei que esse é o momento em que a gente choca o pessoal que leu o título e esperou que esse texto fosse mais uma apologética de que não devemos dançar no mundo! Pois é, gente, não! O templo é d’Ele, pessoal, parem de fazer com que OUTRAS PESSOAS, ESTRUTURAS OU RELIGIÕES coloquem regras! Pode dançar… Aliás, faz igual Miriã… Pega o pandeiro, junta seu povo e sai dançar nas ruas. Sai celebrar e mostrar que dançar pra falar do Senhor é em qualquer lugar! Faz igual Davi, dança na frente do povo e mostra as vergonhas pra explicar que diante d’Ele não temos vergonha alguma! Dança, celebra! Celebra na festa de debutante da sua amiga da sala do colégio. Dança na festa de bodas (casamento) do seu irmão! Dança sim! Dança sempre! Dança com LIBERDADE! Dança como você se sentir bem porque FOI PRA LIBERDADE que Cristo te libertou e porque onde o Espírito de Deus está ali há LIBERDADE! Dança porque você é templo do Espírito, ele HABITA EM VOCÊ, então a Liberdade que o texto nos traz não é liberdade em TEMPLO, é liberdade DE VIDA! Seja no culto, na festa de debutante, no casamento ou até mesmo na balada. #Choquei! EU SOU TEMPLO DO ESPÍRITO! Onde o Espírito está, ali há LIBERDADE! Pois bem, Ele está em MIM! Ele HABITA em mim, então a liberdade está onde eu estiver! A santidade está onde eu estiver! Onde é o lugar que se deve investir as minas? Onde é o lugar que se deve adorar? Pois bem, de certo que o que Cristo nos ensina é que NÃO É EM JERUSALÉM! Não é no meu “cadinho”, não é no meu canto, não é na minha zona de conforto!

Eu sei que muita gente vai ler esse texto e pensar: “Bob, quem você pensa que é na fila do pão pra falar o que tá falando?” e eu vou localizar bem a minha fala. Eu sou o menino que queria fazer jazz desde os 7 anos e nunca fez porque tinha medo de pecar! É desse lugar que eu to falando e é a partir desse lugar de fala que enuncio o que aqui se põe dito. Quero fazer um convite a lideranças de ministério de arte! ESTIMULEM SEUS GRUPOS A SAÍREM! Deixa fazer ballet em escola de dança “secular”. Deixa ir pra colônia de férias de dança que não tem música gospel nas coreografias. Deixa conhecer artistas de fora da igreja. Deixa se inserir nesses espaços. Mas deixa se inserir de verdade. Nada de ir pra fora do país fazer check-in em curso intensivo de 2 dias pra voltar dizendo que aprendeu muita coisa. Líder, estimule sua equipe a estudar! Deixa criticar a técnica dos “grandes nomes da arte gospel”. Deixa criticar você. Deixa dizer pra você o que tá aprendendo "lá fora". Deixa falar que tá ruim! Deixa inovar, deixa criar! Eu garanto a vocês, líderes, que se o discipulado de vocês for eficaz, NÃO HÁ SECULARIDADE ALGUMA que faça seu grupo desviar! Tem que fazer teologia e estudar arte na bíblia? Tem sim! Claro que tem! Mas também tem que estudar dança, estudar técnica, estudar corpo, estudar movimento, estudar arte! Chega de ter teólogo metido a besta achando que teologia responde tudo! Deixa ir! Deixa seu grupo, sua ovelha, sua comunidade, seu discípulo, sua discípula, ir pra esses lugares SANTIFICAR ESSES LUGARES! Deixa querer ir pra Bolshoi, deixa querer ir pro Cirque Du Soleil. Deixa fazer ginástica rítmica nos clubes esportivos. Deixa fazer aula de circo com grandes mestres. Não apenas deixa. Estimula isso! Para de falar que “dança boa mesmo é dança na igreja”, para de falar que “pode dançar onde for, nada se compara como dançar pro Senhor”, para de falar que “não adianta ter técnica e não ter unção” na tentativa de deslegitimar o desejo que essas crianças, adolescentes e jovens tem de querer experimentar outros espaços. Essa galera que investir a riqueza que o Senhor deu e a gente fica usando o discurso religioso pra guardar num pedaço de pano e enterrar a riqueza que o Senhor deu!

Confesso que o que me cansa um pouquinho nesse lance todo é que enquanto nas coisas “seculares” a gente tem uma possibilidade de diálogo, de ampliação e de crescimento do debate, nos espaços “santos” a gente tá achando avançado quando a discussão é dançar de jeans e xadrez pra “dialogar com o contexto jovem”. A gente fica regulando. Não é qualquer samba, não é qualquer axé, não é qualquer afro. A gente demoniza, a gente desmerece, deslegitima!

A gente tem um Brasil com a riqueza cultural que tem a gente tá preocupado em aprender ballet pra ficar misturando com passo de dança judaica porque a gente acha descolado. A gente até dança axé e samba, mas desde que a letra seja gospel e não rebole muito! A gente chama isso de "redimir a cultura para o evangelho". A gente chama isso de "missões urbanas". Se não passar pelo "raio gospelficador" que transforma em algo religioso, a gente recrimina! Daí como a gente quer muito poder viver a liberdade (que já foi dada), a gente cria um grupinho nosso, mas muda as letras todas, cuida pra não rebolar tanto e usa roupa longa. Pronto. Que que a gente faz, a gente leva isso pro Congresso de artes e todo mundo aplaude dizendo que a gente tá redimindo a cultura, quando, na verdade, o que a gente tá fazendo tem outro nome que chama APROPRIAÇÃO CULTURAL e que é uma baita de uma violência!! Capoeira gospel, Axé gospel, Dança do Ventre gospel. A gente tem uma necessidade de colocar essa estrutura em tudo. Que cristianismo é esse que nós professamos que precisa se esconder e ficar criando clã atrás de clã pra se retroalimentar assim?

Bom, reli meus parágrafos aqui e percebi que talvez a gente tenha uma possibilidade de interpretação do meu texto que pode ser problemática. TEMOS SIM QUE ESTAR NOS CONGRESSOS DE DANÇA DAS IGREJAS!! Rogo-vos, leitoras e leitores desse texto, que não leiam esse post como alguém que está DESLEGITIMANDO OS ESPAÇOS DE FÉ! Eu acho importantíssimo termos a reunião dos santos! Lembra que esse post surge a partir de um Congresso de Dança Cristão! Percebe? Eu acho SUPER VÁLIDO estarmos e PRODUZIRMOS esses espaços! Eu mesmo sou um dos maiores entusiastas de que tenhamos PRODUÇÃO DE ESPAÇOS E CONTEÚDOS nessa perspectiva! Meu ponto não é, de forma alguma, deslegitimar esse lugar e essa importância! Que nossas e nossos jovens, nossas crianças e nossos e nossas adolescentes estejam SIM nos congressos cristãos de dança, arte, cultura e todas essas coisas! Que tenhamos mais momentos com dança espontânea, bandeiras de seda e tecidos! Isso é importante! Isso é legítimo! Meu ponto só é: que esses não sejam nossos ÚNICOS espaços! Que sejamos corajosos pra pegar as minas e riquezas que nosso Senhor nos dá e encontrar lugares para investir!

FIDELIDADE É A PALAVRA DE ORDEM

O bom dessa parábola é que ela tem um caráter de FIDELIDADE MUITO GRANDE! A santidade não está no LUGAR onde dançamos, a santidade está NO COMPROMISSO COM QUEM ME DEU A RIQUEZA! O servo bom e fiel tem uma afirmação que vem do seu Senhor que é FUNDAMENTAL na história!

“Por ter sido confiável no pouco, governe sobre dez cidades”. Há algo importante de se perceber nesse processo todo. Nosso senhor não está tão preocupado com ONDE VAMOS LEVAR a riqueza dele (até porque, como vimos, Ele GOVERNA SOBRE TUDO). A preocupação do nosso Senhor, dono da riqueza que está a nós confiada, é justamente A FIDELIDADE E CONFIANÇA! Se somos templo do Espírito e se estamos submetidos ao Senhorio de Cristo, importa que tenhamos claro em nós que a proposta do Governo de Deus não está em ritos e lugares. Não sei se vocês conseguem ver como essa discussão DUALISTA e BINÁRIA acaba sendo problemática inclusive na vida da nossa comunidade! Quando a gente segrega a gente acaba estimulando as pessoas a viverem um compromisso com Cristo que não é sobre Senhorio de Cristo, é sobre recompensas religiosas. A ideia de “Não vai dançar porque tá em pecado”, a ideia da “disciplina” é essa ideia de que a pessoa não pode dançar numa reunião “especial” ou num lugar “especial” (o famigerado altar), por causa de algo que ela fez na semana retrasada! Gente, se santidade for pré-requisito pra ministrar, não vai ser um palco de um templo pra 50 ou 1000 pessoas que vai definir isso… Essa ideia de “entrar no santo dos santos” em pecado gera fulminação, sabe? Essa coisa bem Antigo Testamento… Gente, o véu rasgou e pronto! Tá rasgado! Não tem lugar santo mais não… Todo lugar é santo! Isso significa que se a pessoa não pode dançar no altar do da igreja durante a reunião (também intitulado culto), ela não tem que poder dançar em lugar nenhum, percebe?

Essa super valorização dos espaços é problemática na nossa relação de discipulado! A gente fica nesse esforço de conservar as minas porque temos medo de um Senhor severo! Vejam o versículo 20 e 21: “eu a conservei guardada num pedaço de pano. Tive medo porque és um homem severo” A visão severa sobre nosso Senhor tem sido responsável por conservar guardado as riquezas que Ele nos confia! Uma coisa importante de registrar é que os dois primeiros servos que devolvem suas minas/riquezas rendendo dez e cinco vezes mais também achavam o seu senhor severo! Não tem ninguém propondo uma teologia de graça sem juízo, não tem ninguém propondo um amor sem compromisso aqui! O que nós precisamos entender é que a noção severa sobre nosso Senhor precisa ser equilibrada para não fazer de nós seres alienados em nossos espaços com MEDO de ir investir em outros espaços as riquezas que Ele nos confia! Eu sei que meu Senhor é severo e por isso prezo por sua confiança, não por sua riqueza! Quando a visão severa de Deus coage nossa arte a se afunilar nos espaços religiosos com medo de expor nossa arte e nossas/os artistas a outros espaços há uma grande possibilidade de estarmos sendo líderes que formam “servos maus” e eu uso esse termo com todo o temor que o texto bíblico usa porque é assim que ele segue dizendo “servo mau! Você sabia que sou homem severo, que tiro o que não pus e colho o que não semeei. Então por que não confiou o meu dinheiro ao banco? Assim, quando eu voltasse, o receberia com juros”.

O SENHOR SEVERO

Confesso que levei um tempo debruçado sobre esse Rei que junta onde não põe e colhe onde não semeia. Que Deus mau esse, não? Que capitalista meritocrata, achei péssimo falar: “então coloca no banco”. Fiquei pensando sobre a insensibilidade desse rei, que já não era o mais querido pelo seu povo, vide versículo 14. Uma coisa que chama a atenção nesse processo todo é que, quando esse Senhor vai punir o servo, ele começa usando uma frase que é emblemática no processo, “Eu o julgarei pelas suas próprias palavras, servo mau!”. Eu acho que isso explica bastante coisa e confesso que me acalma um pouco! Há uma coisa que fica clara em todo esse processo do texto que: O REI NÃO ESTÁ PREOCUPADO EM PROVAR NADA A NINGUÉM! SEU GOVERNO NÃO DEPENDE DE APROVAÇÃO! Gosto de pensar isso no que se refere ao Senhorio de Cristo! A gente não precisa coroar quem já é Rei! Quando o senhor fala isso ao seu servo, na parábola, o que fica claro é que Deus não está buscando aprovação e aceitação de ninguém, Ele está buscando FIDELIDADE E CONFIANÇA! Muitas vezes queremos colocar nas costas de Deus a justificativa da nossa negligência no exercício do nosso chamado! A gente usa esse discurso de que Ele é severo pra legitimar nossa falta de vontade de aperfeiçoar e investir nas riquezas que Ele nos confia! A gente fica nessa mediocridade de “unção”. Veja bem, eu acredito na unção! Não é esse meu ponto! Eu acredito que TODAS AS RIQUEZAS QUE NÓS TEMOS VEM DO NOSSO SENHOR QUE CONFIOU ESSAS RIQUEZAS A NÓS… Se isso não é unção, queridas e queridos, eu não sei o que é! O ponto é que, a partir disso, há muito trabalho e não dá pra gente ficar jogando nas costas de Deus a responsabilidade que Ele confiou a nós! Os versículos 22 e 23 falam sobre um Senhor que não vai ficar se justificando e discutindo com quem chega pra Ele cheio de justificativas! Deus não precisa provar nada a ninguém!!

Retomando rapidamente a ideia que trabalhamos lá em cima de que esse texto foi escrito pra pessoas que estavam esperando uma revolução política acontecer em JERUSALÉM, o que Jesus ensina nessa parte da parábola é que Deus não está interessado em pessoas que fiquem se justificando e que pra se justificarem ficam questionando o caráter d’Ele! Ele é Rei! O amor e a graça de Deus nos alcançam em nossa humanidade e limitação! Não vou ficar elucubrando aqui "o que aconteceria se" esse servo tivesse tido outras questões que o impedissem de investir nas minas. Quando olho pra Trindade, vejo um Deus que é benevolente em entender nossas limitações! Não tem problema falar pra Deus que não conseguiu, que tá investindo na riqueza confiada e que não tá dando lucro! O problema não é esse! O problema é usar o caráter do próprio Deus pra legitimar a nossa falta de compromisso e coragem de avançar! Eu vejo um Rei que não está preocupado com a riqueza em si, tanto que colocar no banco é uma opção! A metáfora do banco aqui é boa porque o que o Rei faz é dizer pro servo – metaforicamente falando –  algo como  “não fica criando desculpas pra justificar o fato de que você não queria ter trabalho, afinal de contas, no banco você também não ia ter trabalho e ainda algo útil aconteceria.” Um Rei que é dono de Tudo não está preocupado com uma mina!

Uma mina é cerca de 1/2 quilo de prata, que dá mais ou menos o salário de 3 meses de um trabalhador braçal. A gente não sabe qual era o trabalho desse servos, por isso não sabemos se era muito ou pouco em relação ao que eles ganhavam. O ponto é que pra quem acabou de ir pra terras distantes ser coroado rei, uma mina de prata não é nada! A discussão desse texto aqui nunca foi sobre  a riqueza em si! Deus é dono de tudo, gente, Ele não está preocupado com “ocupar” nem com “avançar”, nem com “ganhar”. Ele já é dono! A discussão desse texto aqui é sobre CONFIANÇA, sobre FIDELIDADE!

FIEL É O BAILARINO E NÃO A DANÇA!

A conversa desse texto aqui é sobre arte e lugar pra dançar, por isso não vou perder o foco agora, mas vamos propor um discipulado que faça as pessoas desejarem andar em santidade não pra poder dançar no culto de domingo ou no espetáculo de páscoa. Vamos propor um modelo de discipulado que faça da santidade um convite a responder a esse amor furioso de Deus que nos envolve! Que a santidade seja apenas e tão somente o desejo suficiente de estar apto para ser conduzido na dança por um parceiro como o Noivo, que é Cristo! Não é raro você ouvir pessoas “ah, não posso, eu tenho uma responsabilidade no ministério” ou algo como “não posso dançar aqui, eu danço na igreja e não posso servir a dois senhores”. Você percebe nesse discurso que a motivação não é sequer santidade ao Senhor. A motivação é a manutenção do status de ministro! Ainda mais pra artista, onde isso fica muito mais latente! Quem quer ficar longe dos elogios e aplausos? E aí entra um pouco da minha pesquisa que é o lance do discurso religioso que tem um poder legitimador absurdo na vida das pessoas. O discurso religioso confere significado existencial. De certo que esse debate é mais profundo, especialmente na perspectiva do que é santidade. Outra coisa que me cansa é a galera limitar santidade pra ministrar a beijar bocas e usar roupas curtas, como se comportamento social definisse motivação do coração, que é com o que de fato Jesus está preocupado! Mas deixemos isso para outro texto!

Que sejamos uma geração de líderes que motivam nossas comunidades e grupos a serem bailarinos e bailarinas onde quer que estejam. Que dancem na festa junina da escola, que dancem nos festivais da arte da cidade, que façam aula nas melhores escolas de dança e que façam isso sem medo de perder a presença de Deus, muito pelo contrário, que façam isso revestidas e revestidos de toda a unção para levar a presença de Deus a esses lugares. Que se vejam como servas e servos fiéis que estão levando da riqueza que o Senhor confiou a lugares onde essa riqueza vai frutificar! Vai, servo! Vai, serva! Leva a riqueza por onde você for! Investe! Semeia! Proclama! Dança! Dança todos os ritmos! Dança todas as técnicas! Dança o que sentir que seu corpo quer dançar! Dança com liberdade! Sua a camisa com suor de esforço e dedicação! Diz pra todos os espaços da arte que não há lugar onde a arte não seja d’Ele. Faz a riqueza que Ele te confiou frutificar! Volta pra apresentar os feixes do teu trabalho e diz ao seu Senhor que você foi por onde achou que devesse ir e investiu a riqueza dele. Traz os feixes do teu trabalho! Mostra a Ele que tuas minas renderam outras dez minas! Ou outras cinco, não importa! Ele não está preocupado com números! Ele é dono de tudo! Diz que lá “no mundo” você dançou e foi convidado a fazer parte do corpo de baile. Diz ao seu Senhor que você entrou pra uma Companhia de Dança boa. Diz que lá nesses espaços exigiram de você uma técnica que você conseguiu oferecer numa excelência como ninguém jamais conseguiu! Diz ao seu Senhor que testaram teu caráter nesses lugares mas que você manteve firme a FIDELIDADE! Fiel é o bailarino e não a dança. Dança é dança! Tão somente e suficientemente isso. Dança! Pois que batuquem tambor de Olodum ou de qualquer orixá pra mim. Que toquem o sitar e o alaúde e me vistam com as sedas finas da Índia. Minha dança, onde quer que eu esteja, como quer que eu esteja, é d'Ele e pra Ele! Não é um instrumento, um ritmo, uma letra, um lugar, um artista que vai mudar isso em mim. Minha fidelidade ao Senhor acontece no púlpito quando prego e na balada quando me divirto com os amigos! Para mim, não há lugar mais ou menos sagrado e portanto não há lugar mais ou menos apropriado pra expressar minha fidelidade!

PS: Inclusive, aos que me encontrarem dançando em bloquinhos de carnaval ao som dos tambores, axés, marchinhas e sambas, estejam avisados: estou perfeitamente ciente e plenamente lúcido!

AINDA SOBRE FIDELIDADE – LHE SERÁ DADO

Uma coisa que chama atenção nessa história é o impacto que a fidelidade tem na relação de mordomia! Ao servo que governou sobre 10 cidades lhe foi dado a responsabilidade de cuidar da riqueza daquele servo medíocre que enterrou o talento! “Eu lhes digo que a quem tem, mais será dado, mas a quem não tem, até o que tiver lhe será tirado”. Quero chamar uma atenção especial sobre essa parte do versículo 26 e como realizamos a leitura disso! Não tem ninguém aqui propondo uma leitura meritocrata sobre esse texto! Essa coisa de competição de ter mais pra ganhar mais, essa visão gananciosa que molda a forma com que lemos esse texto faz parte a da estrutura social que nós estamos inseridos! Mas deixa a problematização pra depois, vamos nos concentrar (#FocaBob).

Quando o Rei redistribui as riquezas e as direciona ao que tem 10, o Rei não está propondo aqui que “quem tem mais habilidades de lucrar é quem vai receber o maior investimento”. Essa visão mercadológica não é a pauta do texto aqui! A preocupação de Jesus aqui é ensinar pra esse povo que tá lá no versículo 11 esperando uma manifestação imediata em Jerusalém que QUEM REGULA A RIQUEZA É ELE! A ideia de soberania e de eternidade aqui precisam ser as lentes com as quais nós olhamos esse texto! A galera inclusive questiona e diz “Senhor, ele já tem dez”. A gente fica aqui preocupado “mas ele já tem demais”. A ganância não está nos olhos do Rei, até porque, como já disse em várias partes desse texto. É TUDO DELE. A ganância e a cobiça estão nos olhos da galera que não tem 10 e tá achando que o que tem 10 tem além do que deve ter. Jesus propõe a nós um olhar que não esteja assim tão preocupado com os resultados que os colegas tem. Não tem ninguém comparando nada com ninguém aqui!

Trazendo esse recorte pra dança, acho que o convite aqui é pra olharmos para as pessoas que conquistam espaços e que estão inseridas em lugares e posições de destaque, de poder, de fala, enfim (na verdade, pra quem é foucaultiano, como eu, tudo é uma questão de espaço de poder e disputa de poder, né, mores?!), a gente precisa quebrar essa lógica de comparação com os resultados das pessoas  que estão no meu contexto! A resposta do Rei aos servos que questionam é “A quem tem, mais será dado”. Na versão Revista e Corrigida o versículo está escrito “a QUALQUER que tiver ser-lhe-á dado”. O próprio Rei tá quebrando a lógica de que QUANTO MAIS tiver, por isso, para de se comparar! Deus te confiou riquezas? Ele vai fazer sua riqueza frutificar! Basta nos prontificarmos a isso, como o governador de 10 cidades se prontificou!

Vamos nos preocupar mais com nossa vida, nossas riquezas e aquilo que a gente tem feito em relação ao que é nosso! Infelizmente, do pouco contato que voltei a ter com o ambiente das artes, me parece que tem uma disputa de egos que me deixa horrorizado! Gente usando púlpito pra atravessar recado pra quem tá na plateia. É indireta pra cá, indireta pra lá!! Eu fico imaginando aqui (só imaginando mesmo tá, gente?) a cara de AFF do Rei com a galera questionando o que Ele faz com a riqueza que é d’Ele. A gente pede e dança pra deixar o céu descer, mas a gente continua comparando e medindo as coisas com as mesmas métricas e medidas seculares com as coisas daqui da terra!

ENTÃO CHEGA POR HOJE?

Bom, gente, acho que, pra finalizar esse estudo rápido sobre o texto de Lucas e questão da dança fora da igreja, eu queria só esclarecer uma coisa importante sobre os debates que rolam aí no mundo da igreja sobre Arte, Bíblia, Santidade, Ministério, Reino, etc…

Essa(s) discussão(ões) toda(s) pode(m) acontecer em duas abordagens possíveis. O campo da teologia bíblica e o campo da teologia sistemática (ok, na verdade tem vááárias outras abordagens dentro da teologia que nos permitem discutir isso, mas a princípio eu to falando das duas mais comuns). Pra tentar explicar rapidamente o que é isso eu vou fazer uma diferenciação SIMPLES, RÁPIDA E DIDÁTICA. Sei que é mais complexo que isso, mas em poucas palavras, funciona assim:

Teologia Bíblica é quando a gente pega um texto bíblico X e a gente só trabalha em cima desse texto e todas as muitas possibilidades interpretativas desse texto. A gente não fica falando sobre UM ensinamento, ou uma doutrina em si, a gente pega um trecho da bíblia e pensa VÁRIAS possibilidades de interpretá-lo e de dar significado a esse texto;

Teologia Sistemática é quando a gente pega um conceito bíblico e a gente acha vários textos diferentes pra defender nosso ponto. A gente tem um conceito X sobre qualquer coisa da vida, da moral, da sociedade e daí a gente contextualiza esse nosso conceito X usando vários textos bíblicos diferentes. Desde versículos isolados, até capítulos inteiros.

Querem um exemplo pra ficar claro?

Quando a gente fala sobre TRINDADE. A gente pode falar de Trindade como Teologia Sistemática (que é o que mais se fala) e daí a gente pega um monte de versículo diferente da bíblia pra provar que a trindade existe (e ela existe). A gente usa texto aqui, texto acolá pra falar da trindade. Essa palavra, trindade, nem existe na Bíblia, mas a gente elaborou a DOUTRINA DA TRINDADE e aí a gente passa a usar os subsídios teológicos pra isso. Quando a gente fala de Trindade na Teologia Bíblica a gente geralmente se recolhe a usar meramente dois textos básicos que é o “Façamos o homem” e o “Esse é meu filho amado”. A gente pega só esse texto, sem ajuda de nenhum outro e daí a gente interpreta ele, usa hebraico e/ou grego (as vezes até latim) pra dar significados ao texto e daí a gente diz “vemos nesse texto aqui a beleza da trindade”.

Falar de DANÇA é mais ou menos assim. A gente pode pensar isso do ponto de vista de pegar vários versículos diferentes pra defender se podemos ou não dançar fora da igreja ou podemos nos debruçar sobre um texto específico pra falar sobre isso. (sei que é mais complexo que isso, gente, to só tentando ser didático).

Acho que vocês conseguem perceber qual abordagem eu usei aqui, né?! Eu to esclarecendo isso só porque quando a galera vier falar sobre esse texto e quando a gente fomentar o debate (que eu adoro, inclusive), é importante vocês entenderem qual O MÉTODO, e qual EPISTEMOLOGIA a gente tá usando pra gente ter um debate qualificado!! Imagina uma discussão onde um tá falando de geometria e outro falando de física. Tudo envolve número, mas não é porque tudo envolve que a discussão é igual e que o debate tá qualificado!

Nossa, na minha cabeça já vem a oportunidade de falarmos sobre várias coisas, pensamento acelerado é assim mesmo. Mas tá bom, vou tentar me ater ao que propus aqui. De todo jeito, o que eu quero só deixar claro com todas essas minhas intervenções desse texto que eu to construindo no meio de uma crise de pensamento acelerado (estou em SPA) e que é isso mesmo, gente… Esse assunto é um assunto que efervesce! É um assunto que leveda, como fermento! Assim é o Reino de Deus sendo gerado em nós! Ele inquieta, ele provoca! A gente pode deixar ser assim!



Esse texto todo foi escrito no dia 12 de dezembro e foi revisado na noite do dia 14 e madrugada do dia 15 de Janeiro de 2018 comigo muito cansado e com muito sono! Perdão os erros de português, concordância, gramática, ortografia, coesão e demais coisas da língua!

Que venha muita dança e muito texto sobre arte por aí!

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